sábado, 10 de julho de 2010

Capítulo extra - A comida da tia Angélica!

Cristian:



Eu fiquei observando enquanto o Josh fechava a porta se despedindo da Eloá, a última pessoa a ir embora depois da reunião do grupo.

- Eu acho que a Eloá gosta de você cara. – falei sentando no sofá.

- Eu sei. – ele suspirou. – mas não gosto de garotas grudentas.

Eu ri.

- Aham, eu sei qual o seu tipo de garota. – disse.

- E que tipo de garota eu gosto? – Josh perguntou levantando a sobrancelha.

- Ah, sei lá! – comecei. – Uma garota legal, que estuda em certa escola igual a sua e que trabalha em uma certa loja de CDs...

Ele revirou os olhos e ia dizer algo quando a Angélica entrou na sala.

- Desculpem interromper, mas é pra avisar que o jantar vai demorar um pouco.

- Tudo bem Angel. – Josh falou – Já avisou à minha mãe?

- Sim senhor, já avisei!

- Ok então!

A Angélica sacudiu afirmativamente a cabeça e saiu da sala.

- E agora, já que o jantar vai demorar... sei lá! Nessa casa tão grande não tem uma sala de jogos? – perguntei na brincadeira.

- Tem sim! Fica lá em cima, quer ir jogar? – ele disse inocentemente.

- Cara, - falei – eu estava brincando!

O Josh riu.

- Eu sei. Mas antes eu tenho que passar no meu quarto pra pegar a chave da sala.

- Como sim? A sala fica trancada? – perguntei.

- Claro que sim! – o Josh exclamou - Da última vez que eu deixei a sala destrancada, a minha mãe inventou de jogar no meu Nintendo Wii e quebrou o controle! Proibi todo mundo de entrar naquela sala.

Surpreendentemente, só precisamos subir um lance de escadas para chegar ao quarto do Josh.

- Pode entrar. – ele falou entrando no quarto.

O quarto dele era claro e não muito grande. Pelo menos era menor do que o meu. A janela ocupava quase o espaço inteiro da parede do lado direito, a cama dele era de solteiro e estava de frente para a janela. Ao lado esquerdo da porta estava um grande guarda roupa e havia um pequeno sofá encostado em um canto.

O Josh foi procurar a chave na gaveta do criado-mudo e, enquanto isso, observei na parede alguns quadros. Em um deles havia a foto de dois meninos, um parecia com o Josh, o outro tinha o cabelo bem preto e olhos que pareciam ser azuis, eu não o conhecia.

- Ei Josh. – falei – Quem é esse garoto?

- Ah, - ele falou sem graça – É o meu irmão...

- Irmão? – perguntei dessa vez surpreso – Eu não sabia que você tinha um irmão!

- É uma longa história... – ele começou.

Então, ele me contou tudo em resumo enquanto subíamos mais escadas indo para a sala de jogos. A história de um tal de Esmond, que não era irmão de verdade dele - mas era como se fosse -, que tinha ido embora a três anos atrás deixando apenas uma carta e um livro.

- Caramba. – falei – Sinistro!

- Pois é! – ele disse.

Entramos em um corredor que só tinha uma porta. Ela era diferente das outras, era maior tanto na largura quanto na altura e tinha a cor preta. Ele abriu a porta com a chave e nós entramos, parecia que eu estava em um sonho.

Logo na entrada dava para ver uma grande TV de tela plana, uma estante com um Nintendo Wii e um Playstation 4 e um sofá na frente da grande TV. No lado direito havia uma grande mesa de totó, de sinuca e um tênis de mesa, no lado esquerdo três máquinas de jogos e um simulador de Fórmula 1.

Respirei fundo e disse na brincadeira.

- Ah, eu ficaria mais impressionado se tivesse uma montanha russa.

- Nos fundos da casa tem uma. – ele disse.

- O quê?! - exclamei.

- Calma, - ele riu – é brincadeira. Montanha Russa é demais.

Nessa hora ouvi um som de telefone tocando. O Josh foi ao lado da porta atender e percebi que na verdade era um interfone.

- Tá bom. – ele disse – Estamos descendo.

Ele desligou e se virou para mim.

- O jantar está servido.

- Ei, - falei – vocês usam um interfone para se comunicar?

- É! – ele respondeu – A casa é muito grande. Imagine o trabalho de subir essas escadas para chamar alguém. Tem interfone em todas as salas e quartos, exceto no escritório da minha mãe e do meu pai.

- Tá bom – falei indiferente.

Gente rica era uma coisa. Gente milionária era outra completamente diferente...



Depois do jantar delicioso, que teve de sopa alemã até em pão de mel como sobremesa, com o Josh e a mãe dele – o pai dele, um empresário dono de um monte de empresas, teve que ficar até tarde no trabalho -, eu fui até a cozinha agradecer à Angélica pela deliciosa comida. Ela não estava sozinha, tinha mais duas cozinheiras que, quando eu agradeci, ficaram vermelhas como um tomate. Então, nós dois fomos à sala de jogos para jogar – é claro que eu não ia desistir de jogar lá, aquela sala era um sonho. Resolvemos jogar uma partida de totó.

- E aí Ian – o Josh falou enquanto tentava fazer um gol e eu, com agilidade, fazia meu goleiro defender – Quando você vai se declarar de vez para a Déa?

Nessa hora me distraí e o Josh fez um gol.

- Tá tão assim na cara? – respondi sério.

- Fala sério Ian, o mundo inteiro já sabe que você gosta da Andressa, dá pra ver quando você olha para ela. – ele falou defendendo um quase gol meu.

- É, você também não disfarça muito sabe?! – rebati.

- O quê? – ele disse se distraindo. Eu fiz um gol e revirei meus olhos.

- Eu quis dizer que tá na cara que você gosta da Lê. – falei.

- Não sei do que você está falando. – ele disse se concentrando demais no jogo.

- Aham. – falei simplesmente.

- É diferente. – ele rebateu. – Eu e a Lê... é um pouco complicado!

- Como assim? – perguntei curioso. O Josh fez outro gol.

- É uma longa história.

- Pode contar, sou todo ouvidos.

Então ele me contou que a Lê tinha lido a carta do Esmond e que, por causa disso, eles tiveram todo um desentendimento.

- Mas – ele continuou. – nós somos meio que amigos agora, e nem sei se ela gosta de mim. Ao contrário da Déa, que é apaixonada por você.

Eu ri.

- Você acha? – perguntei.

- Eu não acho, tenho certeza. – ele disse.

A essa altura, ele estava ganhando de 12 a 8.

- Ela zomba tanto de mim... – desabafei.

- Claro, é muito fácil zombar de você perdedor!

Eu ri novamente.

- Tudo bem, vou ver no que isso vai dar.

- Posso pedir uma coisa? - ele perguntou.

- Claro. - respondi.

- Não diz para a Lê que eu te contei essa história, ela pode ficar chateada...

- Tudo bem! - concordei.

Quando o Josh estava ganhando de 21 a 15 resolvi olhar para o relógio e vi que eram 11 horas da noite. Nós descemos e ele chamou o motorista que ia me dar uma carona para casa. Fiquei o caminho todo pensando na Andressa.






FIM OFICIAL.


OBS: Até o final de ano povo! o/ Obrigada para quem leu!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Capitulo 20 - A volta

O sol estava a pino, provavelmente já passava do meio dia e eu mal podia acreditar que estava a caminho da tão conhecida branca e enorme casa. Mesmo depois de três anos, parecia que foi ontem que eu tinha saído de lá, saído do meu verdadeiro lar... mas tinha sido por uma boa causa não era? Era pra eu me controlar, me aperfeiçoar, era o meu destino.
Quase sorri quando lembrei o que eu senti naquele dia, no dia que eu fui embora, no dia que eu deixei a minha família de consideração. Medo, aceitação, surpresa, felicidade e por fim tristeza, afinal, nem tudo era perfeito. Naquele dia eu finalmente entendi o que tinha acontecido, entendi qual era meu futuro, o que eu era, e essa era a melhor parte daquilo.
O que será que eles perguntariam pra mim quando eu entrasse pela porta de mochila nas costas e um sorriso no rosto? Será que eles ainda me aceitariam? Vacilei com esse pensamento, durante esses anos eu tive medo do que eles pensariam de mim, mas eu sabia que pelo menos uma pessoa iria me entender, o meu melhor amigo, o meu irmão, com certeza ele ia me aceitar de volta e com certeza eu iria cobrar meu livro de volta. Rezei para que ele tivesse tomado conta do meu livro direitinho, o livro da minha infância o livro que meu pai tinha me deixado, o livro que minha mãe lia pra mim...
Sorri quando me lembrei do senhor Maicon sentado na cadeira de costume, em um dos primeiros dias que eu tinha chegado ao campo de treinamento, me contando sobre minha mãe e meu pai. “Dois arteiros! Quando chegaram aqui, aprontaram muito! Todos já sabiam que eles iam acabar ficando juntos. Roberto e Kate eram os mais fortes que tínhamos aqui. Juntos, eles eram praticamente invencíveis, pena que eles tenham tido um inimigo tão traiçoeiro e que nunca se dava por vencido...”
Esse inimigo se chamava Darin, e quando eu ficasse mais forte eu ia me vingar, com certeza.
Mas esses anos no campo também me trouxeram amigos, a Viviane e o Lucas, por exemplo. Mas nenhum deles eram iguais ao amigo que eu sabia que sentia a minha falta, e que estava na casa a qual eu estava a caminho agora.
Quando eu cheguei perto da casa vi que tinha uns dois seguranças no portão distraídos, ouvi a conversa deles.
- Que calor cara! – o da direita falou.
- Nem me diga. Gostaria de poder tirar esse terno! – o da esquerda retrucou.
Eu queria chegar de surpresa então deixei aqueles dois conversando e resolvi entrar por trás da casa pulando o muro. Sumi atrás de uma árvore, dei a volta e olhei para cima. O muro tinha bem uns sete metros. Se fossem uns três anos antes, certamente eu não conseguiria subir, mas agora eu tinha habilidades suficientes, ou até demais, para pular esse muro, e para ajudar ainda tinha umas árvores por perto. Resolvi subir na árvore e de lá pular facilmente para o outro lado do muro. Dei uns passos para trás, pulei e pousei em um galho suficientemente forte da árvore. De lá dava pra ver a enorme casa branca. Dei outro pulo e caí do outro lado do muro, finalmente faltavam poucos passos para eu rever as pessoas que faziam parte da minha vida.
De repente ouvi um rosnado, olhei alarmado, mas depois sorri, era o Caco, o bulldog meu e do Josh que ganhamos nos dias das crianças a uns 6 anos atrás, muito tempo. Fui em direção a ele permitindo que ele me cheirasse e no mesmo instante ele me reconheceu. Ele latiu.
- Shshs amigão! - sussurrei - Isso é pra ser uma surpresa!
Fiz cócegas na sua barriga por um tempo, mas depois suspirei e deixei ele ir, afinal, eu tinha umas coisas para resolver e pessoas para ver.
Fui em direção a enorme casa branca decidido, finalmente parei em frente à porta de madeira. Apurei a minha audição e ouvi o barulho da TV ligada, no canal de esporte. Ouvi também um barulho que parecia ser de uma colher mexendo algo em uma panela, me concentrei um pouco mais e consegui identificar o som de uma música de balé em algum lugar do andar de cima. Meus olhos brilharam, minha mãe estava dançando. Fora isso, a casa estava silenciosa.
Toquei a campainha. Segundos depois uma das pessoas que eu mais desejei rever abriu a porta. Eu vi a expressão no seu rosto mudar de surpresa para choque e depois, para meu alívio, uma expressão de felicidade.
- Olá Josh. – falei sorrindo.
- Esmond!


FIM

Atenção! Ainda tem um capítulo extra viu! Obrigada a todos que leram esse blog!
Beijão!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Capítulo 19 - Notas

Os meninos voltaram para a platéia para poder ver as outras apresentações, eu e Andressa fomos ao banheiro trocar de roupa. Eu estava doida para tirar aquele vestido e vestir algo mais confortável. No caminho, percebi que a Andressa estava inquieta, olhando para todos os lados.
- Déa, o que foi? – perguntei. Ela não respondeu.
- Déa! – repeti – O que foi?
Ela olhou para mim confusa.
- O quê?
Suspirei.
- Eu perguntei o que aconteceu. Você está olhando para todos os lados. – imediatamente entendi tudo – Tá procurando o Ian não é?
- Claro que não! – ela exclamou. A essa altura nós já estávamos no banheiro.
- Então porque esse nervosismo todo? – perguntei cética.
- Nada não. – ela respondeu simplesmente.
Trocamos de roupa e voltamos para o teatro ao tempo de ver a 5ª apresentação. Perdemos a do 4º grupo. Quando a apresentação do 5º grupo terminou houve uma pausa às 12 horas para um lanche. Às 13, começaria a apresentação dos outros cinco grupos da outra turma do 2º ano. Quando a professora anunciou a pausa, alguns deram uivos de alegria e saíram correndo do teatro. Depois disso, todos sumiram, exceto a Andressa que continuou ao meu lado.
Eu estava comendo um delicioso hambúrguer de frango na cantina do colégio, quando percebi que o meu celular não estava no bolso da calça.
- Déa, você viu meu celular? – perguntei a Andressa que, como sempre, estava comendo o seu sanduíche light.
- Não. – ela respondeu com a boca cheia.
Talvez eu tivesse o deixado cair na sala de aula, iria aproveitar a chance para procurar o Ian.
Subi as escadas e quando abri um pouco a porta percebi que o Cristian e o Josh estavam lá conversando, dei automaticamente um passo para trás e fechei um pouco a porta. Graças a Deus eles não tinham percebido que eu tinha aberto a porta. Nesse meio tempo eu ouvi o Josh falar.
- Então você vai desistir dela?
O Cristian riu. Eu não queria ouvir a conversa, mas parecia que os meus pés estavam grudados no chão.
- Vou. – Cristian disse decidido.
- Mas, espera aí. – Josh falou – Você já não disse que tinha desistido?
- Sim, mas... eu ainda tinha esperanças. Agora eu tenho certeza absoluta que não vou mais esperar por ela.
Continuei paralisada atrás da porta.
- Cara, eu não acredito que você vai desistir da Déa.
- Eu não acredito que mesmo dizendo isso agora, eu ainda tenho esperanças dela ver que gosta de mim.
- Mas é só você mostrar pra ela!
- Ela é muito cabeça dura, não via dar certo!
Nessa hora obriguei os meus pés a descolarem do chão e saí de lá.
Até agora eu não acreditava no que tinha acabado de ouvir. O Cristian ia desistir oficialmente da Andressa. Tenho que dar um jeito de juntar esses dois custe o que custar, pensei.
Quando cheguei à cantina, vi a Andressa sentada bebendo um suco.
- E aí Lê, achou celular? – ela perguntou.
- Não. – respondi. – acho que perdi mesmo.
Quando terminou o intervalo do lanche e as apresentações recomeçaram, pude ver o Josh e o Ian sentados na platéia. Quando a Andressa os viu ela suspirou, tranqüila.
Ás três horas da tarde mais ou menos, as apresentações terminaram e a professora anunciou que só iria dar as notas nas próximas aulas, ou seja, no dia seguinte. Fui para casa de carona com a Déa. Tomei um banho e deitei na minha cama, aliviada pela apresentação ter dado certo e chateada pela direção que o relacionamento da Déa e do Ian estava seguindo. Eu tinha que pensar em um plano para juntar aqueles dois e, provavelmente, iria precisar de ajuda.

No outro dia, minha mãe – feliz como nos últimos dias – perguntou como tinha sido a apresentação. Contei todos os detalhes para ela – inclusive a mancada da Eloá – e depois saí correndo para ir ao colégio.
Cheguei um pouco atrasada, mas em tempo de entrar antes da professora. A Andressa tinha guardado o meu lugar, percebi que o Cristian estava muito sério, e eu sabia o porquê. O Josh me viu primeiro e disse bom dia. O Cristian e a Andressa disseram bom dia ao mesmo tempo, respondi-os. A Eloá, ou não tinha chegado ainda, ou não vinha para a escola hoje. Que pena, não ia ser hoje que eu iria matá-la.
Sentei no meu lugar na hora em que a professora de história entrava na sala. Todos imediatamente ficaram quietos.
- Bom dia gente! – ela falou sorrindo.
- Bom dia professora! – todos responderam em uníssono.
- Gostaria de dizer primeiramente que estou muito feliz, pude perceber que vocês se empenharam bastante nesse trabalho...
- Tá bom fessora – o Bruno falou. – Eu sei que agente foi demais e tal, então diz logo as notas por favor!
- Calma Bruno! Deixe-me concluir!
Ele revirou os olhos.
- Como eu ia dizendo, pude ver que vocês se empenharam bastante, foram muito criativos e, por causa disso, resolvi dar a nota máxima para todos os grupos.
- Êêê! – a sala rompeu em gritos de felicidade.
- Gente, gente! Não gritem tanto! – a professora falou tentando acalmar a todos. – Agora, vamos voltar ao programa de aulas. Abram os cadernos e escrevam “Brasil colônia”.
- Aaaaa professora! – a sala protestou.
- Vamos preguiçosos! – ela disse já escrevendo no quadro.
Aproveitei o momento para escrever um bilhete.

Preciso da sua ajuda.


Olhei para o Josh.
- Ei! – falei baixinho. Ele não ouviu.
- Ei! – repeti. Ele continuou não ouvindo, ou fingiu que não ouviu.
- Josh! – falei um pouco mais alto. Ele finalmente olhou para mim. Entreguei o bilhete para ele.
Depois de um tempo ele devolveu.

Posso saber para quê?

Revirei meus olhos.

Claro que sim! Preciso juntar a Déa e o Ian, mas para isso preciso da sua ajuda.
Ele leu e sorriu.

Tá bom. O que eu posso fazer?

Preciso que você dê uma festa na sua casa. É claro, se não tiver problema!

Problema nenhum. Que dia?

O dia que for melhor para você!

Ele leu e sacudiu a cabeça afirmativamente.
Na hora do intervalo, o Josh reuniu todo mundo do grupo na cantina.
- Gente, para comemorar as nossas notas, resolvi fazer uma festa. Quem tá dentro?
Fernando imediatamente se manifestou.
-É claro que tá todo mundo dentro! Quem que vai perder uma festa na sua casa? É só dizer o dia e a hora!
O Josh riu.
- Pode ser no final de semana que vem... no sábado, a partir das dez.
- Dez da noite? – Thiago perguntou.
- Não, da manhã, a festa vai ser o dia todo.
- O dia todo! – Cristiano exclamou - Caramba! Não perco essa festa por nada mermão!
- Ah, será que vocês podem espalhar para o resto da sala e para a outra turma? – Josh pediu.
- Claro! – Fernando falou – Pode deixar com agente.
- Você vai Déa? – perguntei para Andressa.
- Claro. – ela respondeu sem emoção.
- Você vai Ian? – dessa vez o Josh perguntou pra o Cristian.
- Não sei... – ele falou pensativo – Vai ter comida da Angélica?
- Claro que sim! – Josh respondeu. O Cristian riu.
- Tô dentro.
O Josh olhou para mim com aquele sorriso de tirar o fôlego. Sorri para ele também.
Tínhamos o mesmo objetivo, ver o Cristian e a Andressa juntos. Nós dois estávamos juntos nessa.

domingo, 27 de junho de 2010

Capitulo 18 - Parte III

Eu e Andressa demoramos um pouco para nos arrumar. Na verdade, depois que coloquei meu vestido azul, a Andressa realizou seu sonho de consumo que era me maquiar e me pentear. Com o Babyliss ela fez cachos nos meus cabelos e depois passou uma maquiagem leve em mim. Quando terminou, ela me olhou com satisfação.
- Agora que eu estou vendo você vestida e maquiada de verdade!
Revirei meus olhos.
- Tá bom Déa! Agora vai se arrumar vai!
Enquanto ela se vestia eu fui me olhar no espelho. Até que eu não estava tão mal assim, a Andressa realmente tinha feito um bom trabalho. Sorri para o espelho. Eu estava até corada, quem me visse nunca iria imaginar que eu tinha passado por um grande estresse há apenas alguns minutos atrás.
- Admirando meu trabalho não? – Andressa falou me assustando. Ela já estava dando babyliss no cabelo dela e estava usando seu vestido rosa.
- Verdade, tenho que admitir que você fez um bom trabalho. – falei. Ela riu.
Andressa fez um coque no alto da cabeça deixando algumas mechas soltas e, alguns minutos depois, ela terminou de se arrumar.
Quando chegamos à sala vimos Cristiano, Fernando, Thiago e Josh sentados trajando armaduras que mais pareciam vestidos de lacres das latas de refrigerante. Cada um tinha um escudo e uma lança e, na cabeça, capacetes que com certeza tinham inspirado o penteado moicano. Cristian estava usando uma camiseta de algodão branca e de manga longa e uma calça também branca e de algodão, ele iria colocar a armadura depois das primeiras cenas.
Todos olharam para nós duas com caras de bobos.
- Nossa Senhora cheia de graça! – Cristiano exclamou.
Cristian olhava fixamente para a Andressa, também com cara de bobo.
- Não é Nossa Senhora seu burro, é Ave Maria! – Thiago murmurou sem tirar os olhos de cima de nós duas.
- E daí? – Fernando falou em defesa do Cristiano. Ele também não tirava os olhos da gente.
Eu já estava começando a ficar vermelha. Tentei olhar para outro lugar, mas encontrei com os lindos olhos castanhos claros do Josh. Corei e desviei o olhar. Era impressão minha ou os olhos dele estavam brilhando? A Andressa quebrou o momento de constrangimento.
- Bem, obrigada pelos comentários, - ela disse ajeitando uma mecha que havia saído do lugar - e acho melhor vocês não fazerem nada de mal com essas roupas porque são alugadas e, se acontecer algum problema, agente vai ter que pagar!
- Sim Senhora... quer dizer, Maria... quer dizer, Andressa! – Fernando falou cheio de gracinhas.
- Há há há – Déa riu sem emoção. Resolvi quebrar o clima.
- Gente, acho melhor darmos uma ensaiada rápida antes da apresentação. – falei olhando o relógio do celular, já eram 08h e 15min.
- Claro, de acordo! – Josh concordou prontamente.
- Tá bom, mas vai precisar encenar todas as cenas? – Thiago perguntou.
- Eu espero, realmente, que não! – Andressa disse cruzando os braços.
Resolvi atender a “recomendação” dela, Andressa já estava muito estressada com o fato de interpretar Helena e ser o par romântico do Cristian, ou melhor, do Paris.
- Tudo bem – falei – vamos só passar o texto.
Para a parte em que Hera falava - que deveria ser a Andressa, mas agora não era ninguém – resolvemos simular uma carta que ela manda a Paris por Afrodite – que agora era Andressa.
Todos falaram a sua parte com emoção e perfeitamente, com exceção, é claro, da Andressa e do Cristian que falaram sem emoção alguma. Mas eu sabia que eles não iam falar assim na hora da apresentação... bem, eu esperava que não.
Depois da passagem rápida de texto, todos se dirigiram para o teatro do colégio que era um pouco pequeno – cabiam no máximo 150 pessoas – e o grupo que era o primeiro a se apresentar foi para trás das cortinas enquanto os outros grupos ficaram sentados na platéia. Às 9 horas, a professora Manuela de história foi ao palco falar.
Do lugar onde eu estava sentada pude ver o diretor e a vice-diretora sentados nas cadeiras da frente juntos com alguns professores.
- Bom dia! – Manuela começou. – Hoje, nós vamos ver as apresentações dos alunos do 2º ano sobre a Guerra de Tróia. Espero que gostem!
Aplausos e as luzes se apagaram. Depois de alguns minutos as luzes acenderam e no centro do palco pôde-se ver um teatro de fantoches bem no meio do palco, e de lá apareceu um Paris e três deusas...
A apresentação do 1º grupo foi fantástico e engraçado. No final, foi muito aplaudido. Depois de 10 minutos, começou a apresentação do 2º grupo. Eles fizeram um seminário sobre os mitos e as possíveis verdades sobre a Guerra de Tróia. Enquanto eles apresentavam, eu comecei a ficar nervosa, os grupos estavam indo muito bem e tive medo da nossa apresentação não dar certo.
Rápido demais, o 2º grupo terminou a sua apresentação seguido de aplausos. Troquei um olhar com a Andressa que estava ao meu lado. Era a nossa hora de apresentar.
Eu e Andressa nos levantamos juntas e eu vi o resto do grupo levantar-se também para ir para trás do palco. Quando chegamos lá, nós arrumamos rapidamente o cenário, tínhamos somente 10 minutos. Quando tudo estava no lugar nós nos reunimos e desejamos boa sorte uns pros outros, então, o Thiago pegou o microfone, eu, o Cristian e a Andressa nos posicionamos e, então, o Thiago começou:
- O mundo está cheio de deuses e ninguém consegue servi-los a todos. No entanto, é verdade que o destino de um homem depende das escolhas que ele faz entre os deuses; e muitas histórias dizem que a guerra de Tróia começou assim, quando o herói troiano Paris foi chamado pelas Deusas ao topo do Monte Ida, numa tarde quente.
Então, as cortinas se abriram.

Felizmente, consegui dizer todas as falas, assim como a Andressa e o Cristian. Os outros meninos também atuaram muito bem, especialmente o Josh de Aquiles. Ele realmente era um bom ator. E, infelizmente, a parte do beijo entre Paris e Helena não aconteceu, ao contrário das minhas expectativas, na verdade, essa cena não ficou tão emocionante quanto deveria ser, mas mesmo assim o Cristian e a Andressa fizeram bem os seus papéis. Todos ficaram impressionados com o Cavalo de Tróia, e ao final, a nossa apresentação foi também muito aplaudida. Quando as cortinas se fecharam, eu comecei a pular de felicidade e pude ver que todos me acompanharam, com exceção do Cristian, que havia sumido.
- Parabéns galera! – falei.
- Valeu Lê! – Fernando falou todo sorrisos.
- Alguém viu onde o Cristian foi? – Andressa perguntou olhando para todos os lados. Fiz menção de ir procurá-lo, mas o Josh me segurou e murmurou ao meu ouvido.
- Pode deixar Lê, não se preocupe, acho que ele precisa ficar sozinho.
Sacudi afirmativamente a cabeça e saí, junto com os outros, do palco.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Capitulo 18 - Apresentação Parte II

Finalmente, chegou o dia da apresentação.
Mesmo as apresentações começando às 9 horas, e o meu grupo ser o terceiro a apresentar, era a minha função chegar cedo para fazer os últimos preparativos para a apresentação. Antes de sair minha mãe me desejou boa sorte.
Para a minha surpresa, quando cheguei no colégio – as 6:30 da manhã –, já tinha gente andando pra lá e pra cá. Todos muito agitados. Quando eu estava subindo as escadas para ir a sala, um garoto quase me derrubou.
- Desculpa aê! – ele disse sem olhar para trás.
Encontrei Andressa na sala de aula, que já estava cheia de materiais de apresentação dos grupos, tentando arrumar uma pilha de roupas.
- Lê meu amor! Ainda bem que você chegou! Me ajude aqui a separar as roupas de cada personagem pelo amor de Deus!
- Claro Déa! – falei indo ajudá-la.
Quando estávamos na metade das roupas, senti meu celular – que estava no bolso de trás da calça – tocar. Imediatamente atendi.
- Alô.
- Oi Lê! É o Thiago. Será que você pode descer aqui rapidinho?
- Descer? Onde você está?
- No estacionamento.
Achei estranho, mas não quis comentar.
- Tá bom, tô descendo.– guardei o celular e me dirigi à Andressa. – Déa, eu vou aqui em baixo rapidinho!
- Tá bom! Mas não demora!
Desci as escadas correndo e quando cheguei no estacionamento, tive a surpresa, havia um perfeito cavalo de madeira do tamanho de uma pessoa no estacionamento.
- E aí Lê! Gostou? – Thiago falou me assustando.
- Claro que sim! Onde vocês arranjaram isso? – perguntei maravilhada.
- Agente que fez! – Fernando disse.
- Mentira né?! – perguntei desconfiada.
- É, mentira, agente encomendou. – Thiago confessou.
- Encomendou? E se encomenda isso? – perguntei.
- Letícia minha linda, no mundo dos negócios, se tem muitos contatos. – Thiago disse galantemente.
- Tudo bem, - falei - agora arranjem uma forma de colocar isso dentro da escola. Aliás, cadê o Cristiano?
- Ele tá dando conta das outras coisas do cenário. – Fernando disse.
- Hum... tudo bem, por favor, agilizem ainda temos que nos arrumar! – falei.
- O quê? Já! – Cristiano falou chegando sorrateiramente atrás de mim. Dessa vez eu quase gritei de susto.
- Que droga! Vocês adoram me dar sustos né! – falei indignada.
- Foi mal! – Cristiano se desculpou.
Revirei meus olhos.
- Tudo bem, que bom que você chegou. Cadê o resto do cenário?
- Ah, tá no carro do meu pai.
- Ótimo, coloquem tudo pra dentro, tenho que subir agora. Por favor, não demorem! – falei já entrando correndo na escola.
Subi rapidamente as escadas e quando eu fiz uma curva esbarrei em alguém.
- Desculpa! - falei lá do chão.
- De novo? – instantaneamente reconheci a voz. – Eu já te desculpei se lembra?
- Ah, oi Josh! – falei emburrada. Por que nesse raio de mundo, que tinha tantas pessoas, eu tinha que esbarrar logo com o Josh. De novo.
- Oi Letícia. Quer ajuda? – ele disse sorrindo.
- Não precisa! Muito obrigada! – falei levantando imediatamente.
- Na verdade, eu estava indo te procurar. A Déa está desesperada.
- O quê? Que foi que aconteceu? – perguntei alarmada.
- Ela não me disse. – ele deu de ombros - Só sei que ela ficou assim depois que recebeu uma ligação.
- Ai meu Deus... – fui correndo para sala. Entrei na sala vi a Andressa andando pra lá e pra cá. Quando ela me viu, veio correndo em minha direção.
- Lê, péssimas notícias! – ela me disse com a expressão séria.
Suspirei. Qual seria o problema da vez?
- A mãe da Eloá ligou... – ela hesitou.
- E... – a instiguei a continuar.
- Ela me disse que a Eloá caiu e quebrou a perna. Ela está no hospital agora colocando o gesso, e disse que em hipótese nenhuma vem aqui com a perna quebrada.
Respirei fundo.
- Tudo bem Déa, não teve graça. Me diz o que aconteceu de verdade.
- Eu não estou brincando Lê.
E pela expressão dela, eu vi que não estava mesmo. Naquele momento, uma coisa que era muito difícil de acontecer aconteceu, o sangue subiu a minha cabeça.
- QUE ÓTIMO! – explodi. – POR CAUSA DAQUELA IDIOTA AGENTE NÃO TEM A PERSONAGEM PRINCIPAL! QUE GAROTA NOJENTA! ERA HORA POR ACASO DELA QUEBRAR A PERNA? NÃO PODIA SER DEPOIS? QUE INFERNO!
- Lê! Calma pelo amor...
- CALMA? CALMA? QUE CALMA? – continuei a gritar – SE AGENTE NÃO APRESENTAR O TRABALHO POR CAUSA DELA... EU VOU MATAR ESSA GAROTA! AI MAIS QUE RAIVA!
Olhei em volta e percebi que todo mundo estava me olhando. Que ótimo, eu tinha perdido a cabeça em um lugar cheio de gente e ainda por cima na frente do Josh. Respirei fundo três vezes para oxigenar meu cérebro e poder pensar em uma saída. Nesse momento o Cristian entrou na sala seguido dos outros meninos do grupo.
- Oi gente! Desculpa a demora, acordei tarde... – ele olhou para a minha cara de raiva e a cara, correção, as caras assustadas das pessoas que estavam na sala. – Aconteceu alguma coisa?
Eu balancei a cabeça e fui sentar em uma cadeira. O Josh explicou tudo para o Cristian e os meninos enquanto as pessoas que estavam na sala lentamente voltavam a cuidar dos próprios trabalhos.
- Nossa! E agora? Quem vai fazer a personagem dela? – Thiago perguntou espantado.
- Não sei... – Andressa falou sentando em uma cadeira.
- Eu acho que eu sei... – Josh falou com um ar misterioso. Todos olharam para ele.
- O quê? Você vai fazer a Helena? – Fernando perguntou.
- Claro que não. – Josh revirou os olhos – Mas a Déa vai...
- O quê? Eu?
- Quem? Ela! – Cristian exclamou.
Imediatamente entendi o que o Josh estava pensando. Aquela era uma ótima oportunidade dos dois finalmente se entenderem.
Levantei da cadeira com um sorriso no rosto.
- Mas que idéia brilhante! Como eu não pensei nisso antes?
- É claro que não é uma idéia brilhante! – Andressa falou indignada colocando as mãos na cintura.
- Finalmente a patricinha falou uma frase que eu concordo. – Cristian lançou um olhar de censura para mim.
- Olha eu realmente espero que vocês não queiram me ver explodindo outra vez! – falei ameaçadoramente.
- Deus nos livre disso! – Cristiano riu.
- Fala sério, gente. O que é que tem a Déa fazer o papel da Helena? – Thiago perguntou.
- Concordo com o Thiago. – falei.
- Ah, é muito fácil para você falar Letícia! Porque você não faz o papel da Helena? – Andressa falou cruzando os braços.
A resposta saiu mais fácil do que eu imaginei.
- Porque eu já estou estressada o suficiente, porque eu quero que você faça a personagem, e porque, como líder do grupo, eu acho você a pessoa mais capacitada para fazer esse papel de extrema importância.
Todos olharam, novamente, para mim.
- Caraca, quase chorei agora Lê, sério! – Fernando falou fingindo estar emocionado.
Revirei meus olhos.
- Para mim você vai ter que ser mais convincente Lê. – Dessa vez Cristian cruzou os braços.
- Cristian, você sabe muito bem que essa é a única maneira de salvar a apresentação. E com certeza você não vai querer fazer par com um dos meninos né? – falei.
Ele suspirou.
- Tudo bem, se é para o bem de todos e felicidade geral da nação...
- Na verdade, é para a minha infelicidade! – Andressa interrompeu.
- Cale a boca sua paty! – Cristian disse olhando furiosamente para Andressa.
- Eu calo se você para de falar besteiras cabeça de alface. – Ela respondeu com uma cara sonsa.
- Escute aqui...
- Gente! – interrompi - Pelo amor de Deus. Vamos parar de discutir e nos arrumar? Daqui a pouco vão começar as apresentações, e a Andressa ainda tem que gravar as falas! Meu Deus...!
- Na verdade Lê - Andressa começou timidamente -, eu já sei todas as falas.
- O quê? – Todos do grupo falaram ao mesmo tempo.
Andressa ficou vermelha como um tomate, tomou fôlego e disse.
- É que... eu gosto de gravar falas. – o olhar dela encontrou com o meu e imediatamente ela olhou para o chão. Esse gesto era o que eu precisava para saber que ela estava mentindo, mas eu teria que resolver isso depois.
- Tudo bem então... – falei - acho que só falta dar uma passadinha no texto né. Mas antes, vamos todos nos arrumar.
Andressa se dirigiu ao canto da sala onde havia um monte roupas dobradas. Ela distribuiu as roupas de todo mundo exceto o do Cristian, que ela deixou largada em cima de uma cadeira. Ele pegou a sua roupa com um ar indignado. Andressa saiu rapidamente da sala, quando eu ia fazer o mesmo o Josh sem querer barrou minha passagem. Resolvi falar.
- Ótima ideia. – murmurei para ele.
- É, eu sei, sempre tenho boas ideias. – ele abriu um sorriso e me deixou passar.

domingo, 28 de março de 2010

Capitulo 18 - Apresentação Parte I

Durante os dias que se seguiram, tudo continuou, por falta de palavra melhor, normalmente. Minha rotina se resumia a casa, escola, trabalho, ensaio e, arrecadação de dinheiro para a montagem do cenário da peça. Era uma atividade cansativa e frustrante, tentar vender doces na hora do intervalo era uma chatice, e nem sempre alguém queria comprar alguma coisa. Além do mais as outras equipes também estavam fazendo o mesmo, e a concorrência era muito forte. Devo confessar que tive um pouco de facilidade para vender, já que eu tinha prática em ser “vendedora”.
A parte mais chata dessa atividade era a Eloá, que corria atrás do Josh onde quer que ele fosse vender. Eu olhava a cena enojada, a Eloá era uma séria candidata a ser promovida a carrapato. O Josh também não parecia muito feliz com aquilo.
É claro que a minha carona para a casa do Josh agora era com a Andressa. Ela estava ligeiramente carente e estava precisando muito de mim, mesmo já estando melhor – pelo menos era o que ela dizia. A Andressa e Cristian agora só falavam o essencial um com o outro, e isso só porque eles estavam trabalhando juntos na parte de figurino.
A única coisa boa disso tudo era que a nossa peça estava ficando “fabulosa”, como Andressa gosta de dizer. Todos atuando muito bem, tudo indo às mil maravilhas... – é claro que tirando a parte do beijo, onde até o passarinho que cantava na janela sentia a tensão que vinha da Andressa -, mas eu tinha certeza de que agente ia mandar bem no dia da apresentação que, por falar nisso, estava chegando cada vez mais rápido. De repente, só faltavam dois dias para a apresentação. As salas dos segundos anos estavam em polvorosa, todos com expectativa.
- Lê, você sabe que hoje tem a prova de roupa lá na casa do Josh não é? – Andressa me perguntou enquanto estávamos sentadas na cantina no intervalo.
- Sei, e você também sabe que hoje é quarta-feira, e eu tenho trabalho. – falei.
- Ai Lê, por que você não manda a sua chefa ir ver se você está na esquina?! – ela perguntou.
- Eu mandei, mas ela não sabe o que é uma esquina. – Andressa riu da minha piada. – Déa, eu sei que parece que eu é que não quero ir, pareço uma líder desnaturada.
- É, parece mesmo... – ela disse.
- Poxa, valeu pelo apoio Déa!
- Estarei sempre aqui.
- Tá bom, eu sei que não sou uma líder desnaturada, é meu trabalho que atrapalha né.
- Não sei por que você não saiu dele ainda. – ela me disse.
- Pois é... nem eu... – falei olhando para a mesa. Mas na verdade eu sabia bem o porquê, se eu quisesse minha independência, teria que trabalhar pra conseguir...

O trabalho foi chato como sempre, traduzindo, Grace infernizando minha vida. Cheguei em casa morrendo de cansaço, e quando eu mal tinha acabado de vestir a roupa depois de um banho morno, ouvi a campainha tocar. Olhei da minha janela e vi um conhecido carro preto estacionado na frente da minha casa. Desci as escadas correndo enquanto a campainha nervosa continuava a tocar. Abri a porta sem surpresa nenhuma.
- Oi Déa.
- Oi Lê, até que enfim você abriu essa porta! – Andressa disse entrando e fechando a porta ao passar. Nesse momento percebi que ela estava com duas sacolas na mão.
- Déa, o que é isso?
- As roupas da peça ora! Se você não vai até elas, elas vêm até você! Vamos logo experimentá-las! – ela disse já subindo as escadas.
- Poxa Déa, eu fico feliz quando você fica tão à vontade na minha casa e começa a mandar em mim.... – eu disse olhando incrédula para ela que continuava subindo sem cerimônia.
- Eu também... sobe logo Letícia! – ela gritou de lá de cima.
- Sim senhora! – eu disse subindo as escadas.
Quando eu entrei no meu quarto, Andressa já estava tirando um vestido de uma das sacolas. O vestido azul parecia ser de seda, mas era bem simples e aparentemente leve, além, é claro, de ser lindo, com cortes perfeitos e alinhados. Parecia mesmo um vestido que as mulheres usavam na antiga idade média.
- Aqui, veste esse! – Andressa disse me dando o vestido, ele era realmente leve. - Eu escolhi o seu azul, o de Eloá verde, e o meu rosa. Esse vestido é o de Deusa... agora, experimenta logo vai!
Obedecendo a ordem de Andressa, eu troquei de roupa. A sensação daquele tecido passando na minha pele era gostosa, o vestido era leve e fresco. Me olhei no espelho. Eu não gostava muito de vestidos, mas tinha que admitir que aquele era perfeito. Se bem que, ainda assim, eu preferia um jeans ou um short, e uma camiseta.
Andressa olhou para mim com os olhos brilhando.
- Lê, tá perfeito! Não vai precisar mudar nada nesse, e azul combina com você... Agora, o vestido que você vai usar quando for Ifigênia, é mais simples porque na hora você vai estar sendo sacrificada, além do fato de Ifigênia não ser uma Deusa..., mas acho que vai ficar tão bonito quanto esse azul!
Andressa me passou um vestido branco parecido com o que eu estava usando, porém bem mais simples. Troquei de roupa com cuidado, estava morrendo de medo de rasgar o vestido de tão leve e frágil que era. Me olhei no espelho novamente, o vestido era lindo, mas bem mais simples, trazia a mesma sensação que o primeiro, leveza.
- Ai, Lê, não sei porque você não gosta de usar vestidos, fica tão bem neles...
- Déa, não comece! – Falei já trocando de roupa novamente e colocando a roupa que eu usava antes: short e camiseta.
- Não comece?! Eu já comecei, só que não quero continuar. – ela disse pegando os vestidos que eu havia jogado em cima da cama e guardando-os na sacola. – Porque agora é hora de experimentar outra coisa.
- O quê!? Ainda tem mais?! – exclamei.
- Sim senhora, ou você acha que vai apresentar descalça.
- Ah, é mesmo...
Andressa tirou um par de sandálias de couro da segunda sacola. Ela tinha longas tiras, também de couro.
- Você calça 37 né Lê?
- Aham...
- Sabia! Então experimenta aí.
As sandálias couberam perfeitamente no meu pé, eram bem confortáveis.
- Pronto! Serviço feito! Pode tirar. – Andressa disse.
Imediatamente tirei-as.
- Menina, você ficou bonita mesmo viu..., não mais do que eu, mas você ficou bonita. – Andressa disse agora guardando os sapatos.
Eu ri e sentei na cama.
- Sim convencida! Obrigada!
- Lê, - Andressa começou sentando ao meu lado – quando você e o Josh se casarem, promete que vou ser a madrinha?!
Senti meu sangue bubir diretamente para o meu rosto, mas devolvi.
- Claro! Se você deixar eu ser sua madrinha no seu casamento com o Ian!
- Tá bom. Parei de brincar. – ela disse fechando a cara. Aproveitei o momento e tentei aprofundar o assunto.
- Déa, por que você não assume logo de uma vez que é apaixonada pelo Ian?
- Letícia Fontes, me diz que nós não estamos tendo essa conversa! – ela disse levantando da cama e indo para a janela.
Suspirei.
- Déa, isso é ridículo...
- Tenho que ir, - ela me interrompeu - o motorista já está me esperando por muito tempo.
Ela pegou as sacolas e saiu do quarto. Eu fui atrás dela.
- Andressa Rios! Eu estou conversando com você! – falei.
- Depois agente conversa. Tenho que ir ao shopping! – ela disse descendo as escadas.
- Déa, por favor! – tentei, mas ela já estava abrindo a porta.
- Tchau Lê, até amanhã! – ela disse fechando a porta atrás de si.
Ótimo, pensei, recebi uma porta na cara, na minha casa, da minha melhor amiga cabeça dura!
Ouvi o barulho de um carro sendo ligado e depois o ouvi se afastar. Subi as escadas e fui estudar, História não era a única matéria que eu tinha. Depois de um tempo eu fui dormir.

No outro dia, dava para perceber que a atmosfera da sala estava eletrizada, todos na expectativa do dia seguinte, e todos muito nervosos. Claro que eu também tive minha cota de nervosismo, como líder do grupo, eu tinha que verificar se realmente estava tudo em ordem. Tirando alguns probleminhas com o cenário e o figurino, que estavam intimamente ligados ao dinheiro e, no último, a relação entre componentes do grupo, estava tudo certo.
É claro que eu não tinha comentado nada com a Andressa sobre ontem, e ela parecia nem lembrar que tinha ocorrido aquela quase conversa. Na hora da saída todos se reuniram no estacionamento para ir em grupo à casa do Josh.
- Bom, tem dois carros disponíveis, o do Josh e o da Déa. – eu comuniquei – Quatro pessoas em cada um dos carros. Quem vai com quem?
Na mesma hora todos começaram a falar ao mesmo tempo.
- Gente, pelo amor de Deus! Um de cada vez. – falei.
- Eu prefiro ir com o Josh – Eloá falou. Eu me segurei para não fingir que ia vomitar.
- Eu também vou com o Josh – Cristian falou.
- Eu vou com a Andressa! – Thiago falou.
- Eu também! – Fernando disse.
- E eu! – Cristiano acrescentou.
- E eu? – perguntei.
- É, e a Lê? – Andressa perguntou.
- Ela pode ir comigo – o Josh disse dando de ombros.
- Eu acho melhor algum dos meninos que vão com a Andressa trocar de lugar com ela. É claro que ela prefere ir com a amiga dela. – Eloá disse ironicamente. Quase perdi a paciência, mas antes que eu pudesse dar uma resposta bem elaborada Andressa falou.
- Thiago, será que você pode ir com o Josh?
- Tá bom... - ele disse meio triste.
- Então está resolvido! - Andressa falou indo em direção ao carro dela. O motorista já estava esperando com a porta aberta. Todos que iam de carona com ela a seguiram e então fomos para o último ensaio na casa do Josh.
O ensaio foi simplesmente perfeito, todos atuando como se a professora estivesse assistindo para dar a nota naquele momento. Passamos a peça mais uma vez e eu dei o ensaio como encerrado.
- Pronto pessoal! – falei para todos - O ensaio foi ótimo e tenho certeza que amanhã vai estar melhor ainda.
- Caracas man, estou muito nervoso! – Fernando falou.
- Só você? Não vejo a hora disso acabar logo! – Thiago falou pegando o celular e ligando para o pai dele que ia buscá-lo. Fernando, Eloá, Cristian, Cristiano e Andressa fizeram o mesmo. Vendo essa cena eu gostava mais ainda de ser independente e poder pegar logo meu ônibus sem ter que esperar por ninguém.
- Lê, você vai comigo né? – Andressa perguntou.
- Se você quiser me dá carona, pode ser! – falei dando de ombros.
- Como se eu não fosse fazer isso. – ela disse revirando os olhos.
Quando já estávamos no carro indo para minha casa, eu percebi que ela estava inquieta.
- Déa, o que foi? – perguntei.
- Nada... é que... será que, quando tudo isso acabar, nós vamos voltar a andar junto? Digo... eu, você e o Ian? – ela me disse olhando para o chão.
- Não sei Déa, sinceramente não sei... – falei a mais pura verdade também olhando para o chão.

domingo, 7 de março de 2010

Capitulo 17 - Por favor!

Andressa foi em direção a pia e lavou o rosto. Depois pegou a bolsa dela, de onde começou a tirar vários itens de maquiagem e a jogar em cima da pia.
- Ai não Déa, você vai se maquiar? – perguntei incrédula.
- Dã, mas é claro que sim! Com esse choro todo a maquiagem se desmanchou né? – ela falou pegando o lápis de olho.
- Por favor Déa, passa só um pozinho e vamos! Do jeito que você é com maquiagem, quando sairmos daqui todos já vão estar em suas respectivas casas e dormindo! – falei jogando minhas mãos para cima.
- Ah, não exagera Lê! – ela falou agora passando blush – Mas, se é para te fazer feliz, eu só vou passar agora um batom... – ela pegou um batom e começou a passar nos lábios que imediatamente ficaram mais cheios e rosados -... e pronto!
- Obrigada né! – falei.
- Ai, vamos acabar logo com isso! – ela disse guardando tudo dentro da bolsa rapidamente e me puxando para fora do banheiro.
Mal nos perdemos pelos corredores quando encontramos o Josh.
- Lê, Déa! Eu estava procurando por vocês. Vocês demoraram, eu fiquei preocupado. Está tudo bem?
- Claro que sim! Tudo ótimo! – Déa falou com muito entusiasmo. – E aí, em que parte está o ensaio?
O Josh nos olhou confuso.
- Eu... não sei... – ele falou hesitantemente – Quando eu saí estava na parte em que Menelau declara guerra a Tróia...
Andressa sorriu.
- Ah, ótimo! – ela falou seguindo em frente – Então vamos lá terminar de ensaiar.
O Josh veio andando ao meu lado e sussurrou ao meu ouvido.
- O que aconteceu com ela?
- Nem me pergunte. – eu sussurrei de volta.
- Déa, eu acho melhor eu ir na frente, você está indo para o lugar errado. – o Josh disse quando viu Andressa entrar no corredor à direita.
- Ah, claro! – ela falou deixando o Josh passar.
Quando finalmente entramos na sala onde estava ocorrendo o ensaio todos fizeram silêncio, o Andressa dirigiu um olhar mortal ao Cristian.
- Finalmente não é! – a garota mais odiada do grupo falou. – Onde você foi buscar essas meninas Josh? No Alasca? Demoraram ein!
- Eloá, você quer fazer o favor de calar a sua boca? – falei já enjoada de ouvir aquela voz, de ver aquela pessoa e de saber que ela existia. Eu achava que ninguém superava a Grace no quesito “tirar a minha paciência”, mas Eloá ganhava com sobra.
- Me desculpe Letícia! Eu só estava brincando... – ela falou com desdém – Não precisa ficar estressada...
- Tá, tá Eloá, vamos continuar logo esse ensaio! – falei com cara de tédio pegando o meu roteiro que estava no chão, eu não via a hora daquilo terminar.
- Bom Lê, a sua parte e a da Déa já passaram, se vocês quiserem voltar... – Thiago falou, mas Andressa interrompeu.
- Não, não. Podem continuar de onde vocês estavam.
- Isso mesmo. – eu concordei.
- Tá bom, agente já passou da parte em que Paris morre...
Quando ouviu isso Andressa riu.
- Déa, o que foi? – perguntei.
- Nada não...
- Bem, continuando – Thiago falou – agente já passou da parte em que Paris morre e estava na parte do cavalo de madeira...
Andressa riu de novo.
- Déa, o que foi? – perguntei novamente.
- Nada – ela disse - é que...o Paris morre né?
- É. – Thiago falou, Andressa riu novamente.
- Qual a graça disso Andressa? – Cristian perguntou olhando para ela.
- Nada não Paris. Meus pêsames... – e ela riu novamente.
Cristian revirou os olhos e fechou a cara.
- Então, por favor, continuem de onde vocês pararam Thiago. – eu falei. E eles continuaram.
Eu os vi ensaiarem a parte em que os troianos são atacados pelos gregos, e a parte em que Menelau – Thiago - e Helena – Eloá - se reencontram, até que, finalmente, o ensaio acabou e todos foram embora. Eu, é claro, de carona com a Andressa, que ficou muito calada por todo o caminho. Ou ela estava doente, ou ela ainda estava chateada com o que tinha acontecido. Eu realmente precisava ter uma conversa séria com o Cristian.
Cheguei em casa esgotada e com dor de cabeça. Fui direto para o meu quarto, desabei na cama e mergulhei em um sono profundo e sem sonhos.

No outro dia eu acordei com uma idéia fixa na cabeça: Conversar com o Cristian. Assim que entrei na sala eu o localizei sentado conversando com o Josh e, para meu espanto, com uma Eloá toda sorridente. Fui em direção a eles.
- Bom dia Lê! – O Josh e o Cristian falaram em uníssono.
Joguei a minha mochila em uma carteira e falei diretamente com o Cristian sem responder o “Bom dia”. Aquela era a hora, pois a Andressa ainda não havia chegado.
- Ian, será que agente pode conversar? – perguntei.
Ele me olhou curiosamente.
- Sobre o quê? – ele perguntou.
- Você vai saber sobre assim que conversar comigo. – falei rispidamente. Dessa vez ele me deu um olhar de vítima.
- Aconteceu alguma coisa?
- Sim, e você sabe muito bem o quê! – acusei.
- Eu acho que não... – ele disse com cara de santinho.
- Cristian, será que dá pra você parar de ser infantil, ir até aquele canto da sala – apontei para o lugar – e conversar comigo!?
Ao ouvir o seu nome, ele imediatamente ficou vermelho e desviou o olhar.
- Eu não tenho o que conversar.
Revirei os olhos e cruzei os braços, percebi que o Josh estava olhando atentamente para mim e a Eloá sorria. Fiquei com vontade de quebrar os dentes daquele sorriso, mas me controlei.
- Ian por fav... – parei de falar quando vi a Andressa entrando na sala. Ela parou bruscamente quando viu a Eloá perto do Cristian e imediatamente amarrou a cara, passando direto e sentando duas cadeiras depois do lugar em que eu tinha colocado a mochila.
Olhei para o Cristian e murmurei rapidamente.
- Hoje. Hora do intervalo. Sala.
Ele não falou nada, mas eu sabia muito bem que ele iria fazer o que eu tinha dito. Peguei a minha mochila de onde eu a havia jogado e fui sentar perto da Andressa.
- Oi Déa, bom dia. – falei.
- Bom? Ele está ótimo... – ela respondeu olhando para frente.
- Você está bem? – perguntei.
- Tudo ótimo! – ela disse dando uma olhada de canto de olho para o Cristian e o Josh sentados perto da Eloá. Olhei também e amarrei a cara.
As aulas passaram em uma velocidade que eu só achava possível para uma lesma, mas como o tempo tem que passar, finalmente a hora do intervalo chegou.
- Vamos Lê. – Andressa falou sem emoção. Eu fingi estar pegando algo na mochila.
- Vai indo Déa, eu estou procurando uma coisa aqui... vou logo em seguida.
- Tá bom... – ela suspirou.
Olhei para o lado e o Cristian estava totalmente parado sentado em sua carteira. Esperei a sala ficar completamente vazia e fui falar com ele.
- Ian, o que está acontecendo ein? – perguntei sentando na carteira em frente a ele.
- Nada. – ele disse simplesmente. Eu suspirei.
- Ian, eu não achei certo o que você fez ontem sabe, a Déa ficou muito chateada...
Parei de falar quando ele começou a rir. Revirei os meus olhos.
- Lê, você acha mesmo que a Andressa ficou chateada! Ela é uma egoísta! Só pensa nela mesma! – ele completou - Ela pensa que é o centro do universo!
- Você está sendo injusto. – me indignei. Tudo o que ele tinha dito estava errado, a Andressa podia ser uma garota mimada e patricinha, mas nunca egoísta, disso eu tinha certeza.
- Injusto?! Lê, você sabe que... você sabe que eu... – ele suspirou e continuou – Você viu o que ela falou de mim naquela reunião, ela disse que eu não sou capaz de fazer nada! Como que eu estou sendo injusto com uma garota dessas! Eu nem acredito que eu...
- Que eu o quê Cristian? – falei – Pode deixar que eu digo a frase por você! Você ia dizer, “ eu nem acredito que eu gosto dela ” não é? Que eu a amo! Era isso que você ia falar!
Ele se rendeu, derrotado.
- É, é isso sim! Todo mundo sabe disso! Mas Lê, - ele disse me olhando – eu estou cansado de gostar de alguém que não gosta de mim, eu tenho que gostar de quem me dá valor!
Dessa vez eu ri.
- E quem disse que ela não gosta de você?
- É fácil de perceber...
- E você acha que a Eloá gosta de você? – perguntei incrédula.
Ele revirou os olhos.
- É claro que não! Mas se esse é um caminho para esquecer a Andressa, perfeito! – ele baixou os olhos. – Eu realmente gostaria que não terminasse assim... mas não há outra opção.
Eu suspirei.
- Olha Ian, ninguém pode voltar e criar um novo início, mas todo mundo pode começar hoje e criar um novo final. Por que você não muda esse final? Porque você não conversa com ela?
- Letícia, isso é impossível, eu não vou fazer isso, só que pode acontecer é mais e mais brigas... – ele se levantou – Eu sinto muito, e mais por mim!
- Ian... – tentei novamente.
- Tchau Lê, vou lanchar. – ele disse saindo da sala.
Respirei fundo e saí também.
Como as pessoas podiam ser tão cabeças duras? Tão idiotas e tão... apaixonadas? Estava mais do que na cara que se apaixonar por alguém era o fim da picada, um mergulho em um poço profundo sem fim e sem luz, a última coisa que eu faria na vida. Quando eu vi Andressa na cantina sentada sozinha em uma mesa e com cara de enterro, eu só tive certeza do que eu tinha pensado.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Capitulo 16 – E lá vamos nós!

Quem abriu a porta foi a Angélica, a perfeita cozinheira que fez o Cristian ficar para jantar.
- Olá senhor Josh! Como foi a escola? – ela disse quando nós entramos.
- Bem Angel. – ele deu um beijo em sua bochecha - Onde está a minha mãe?
- Ela saiu, mas disse que voltava logo. Está com fome?
- Não, estou bem... Você já conhece a Letícia não é? – ele falou sinalizando para mim.
- Sim senhor, eu a vi naquele dia! – ela sorriu – Como está a senhorita?
Eu fiquei sem graça, mas mesmo assim falei.
- Bem, obrigada.
- Vai precisar de alguma coisa? – ela se dirigiu ao Josh.
- Não. Obrigado.
Ela acenou com a cabeça e saiu. O Josh largou a mochila dele em cima do sofá.
- Pode deixar a mochila aí Lê.
- Não precisa! – eu disse apertando a alça da minha mochila – Eu estou bem.
- Você que sabe. – ele deu de ombros.
Nós ficamos assim por um momento até que me deu uma enorme vontade que os membros do grupo chegassem logo.
- Que horas são? – perguntei.
Ele olhou o relógio no pulso.
- Uma e quarenta.
- Ainda?! – me assustei.
Ele sorriu.
- É.
- E o que nós vamos fazer até o pessoal chegar? – perguntei entediada.
Ele pensou por um minuto e depois respondeu com um grande sorriso.
- Você quer ver a minha coleção?
- Coleção? De quê? – perguntei.
- Surpresa! – ele disse pegando minha mão e me puxando. Nós não subimos nenhuma escada, só íamos em frente um grande corredor que ficava ao lado da escada. Eu pude ver uma porta no fim do mesmo, mas eu seguia o Josh sem entender nada. Na verdade, eu quase nunca entendia coisa alguma. Eu fiquei imaginando que coleção seria aquela. Selos? Tampinhas de garrafa? Figuras? CD’s? DVD’s? Tênis?
Finalmente paramos em frente à porta.
- Está preparada? – ele perguntou.
- Creio que sim. – falei ainda imaginando que coleção seria essa.
Ele abriu a porta, estava tudo escuro. Ele ligou o interruptor ao lado da porta e entrei em estado de choque. Como eu pude imaginar que ele teria uma coleção de tampinhas? Ele era rico, milionário! É claro que a coleção mais coerente que ele poderia ter era de carros!
Carros de todos os tipos, tamanhos, cores. Essa foi a primeira coisa que eu registrei, depois vi que o lugar era enorme e que tinha uns vinte carros ou mais, todos enfileirados lado a lado deixando assim um grande espaço no centro. Do lado direito tinha uma porta enorme de metal que eu imaginei ser o lugar onde os carros entravam e saiam. Parecia uma garagem em tamanho gigante.
Eu não entendia nem sabia nada sobre carros, mas, com certeza, todos os meninos do mundo gostariam de ter uma garagem dessas. Simplesmente maravilhosa!
- E aí! Gostou? – ele perguntou sorrindo.
- Eu... nossa... adorei. – consegui falar.
- Meu pai que começou com a coleção, de carros e de motos. O de carros ficou para mim porque eu adoro carros. O de motos ficou com o... Esmond – o Josh se entristeceu -, ele... prefere motos.
- Josh, eu sinto muito pelo seu amigo.
Ele balançou a cabeça afirmativamente, suspirou e depois mudou de assunto.
- Olha esse aqui. – ele disse apontando para um carrão conversível amarelo. – É um Lamborghini Murciélago Roadster. Adoro esse carro ele corre muito!
- Você já dirigiu? – perguntei me distraindo da visão do maravilhoso Lamborghini por um momento.
- Já!
- Quantos anos você tem? – Como eu ainda não tinha feito essa pergunta?
- Dezessete.
- Espera aí! Você não pode dirigir ainda!
- Eu sei! Mas a falsificação existe né? – ele falou como se eu fosse uma insana.
- Acho melhor parar de fazer perguntas sobre isso, não quero me envolver no mundo do crime. – falei. Ele riu.
O Josh me mostrou alguns carros como a Ferrari Enzo 34 vermelha, o Porsche Cayman prata e um Bugatti Veyron azul. O mais “simples” que ele me mostrou era o favorito dele, um Novo Honda Fit verde escuro. Depois que ele me mostrou esse ultimo ele olhou o relógio e viu que já eram duas horas.
Nós saímos da grande garagem e voltamos para sala no mesmo momento em que a campainha tocou. O Josh foi atender a porta e por ela entraram a Andressa e o Cristian.
- Lê! Que bom que você conseguiu chegar! O motorista do busão te deixou aqui perto mesmo? – Andressa falou toda feliz.
- Sim. – falei.
Foi um momento de constrangimento. O Josh olhou para mim com uma grande interrogação na face. Será que ele ia dizer alguma coisa para a Andressa? Se ele ia dizer ou não, não deu para saber, porque a campainha tocou novamente e o Fernando e o Cristiano entraram. Logo depois chegou o Thiago seguido da Eloá, que deu um abraço no Josh. Virei o rosto para não ver a cena.
- Então! Vamos ensaiar? – Eloá falou empolgada.
- Acho que é melhor afastar esse sofá e a mesinha pra não quebrar nada... – Fernando disse meio incerto.
O Josh riu.
- Agente não vai ensaiar aqui, não tem espaço. – ele falou.
- Então onde agente vai ensaiar? – Andressa perguntou.
- Na sala de dança. Há um grande espaço lá.– ele disse simplesmente.
- Não vai me dizer que você dança também!! – Eloá perguntou maravilhada. Que garota nojenta!
- Não, minha mãe.
- Ah tá! Cara, se sua mãe não fosse sua mãe, eu pegava! – Cristian falou.
O Josh deu um tapa na cabeça dele dizendo:
- Você é muito engraçado sabia!
- Eu sei... – Cristian falou massageando a cabeça onde o Josh bateu. Eloá revirou os olhos.
- Bem, vamos lá né?
E nós subimos, mais uma vez, escadas. Dessa vez foram três lances de escadas.
- Cara, você nunca pensou em instalar um elevador aqui não? – Thiago perguntou.
- Já, mas minha mãe não concordou, disse que exercício faz bem.
- Isso era uma brincadeira! – Thiago falou encarando o Josh.
- Sério? – o Josh falou - Bom, eu já me acostumei com as escadas!
- Mas agente não! – Andressa reclamou.
- Chegamos! – ele disse depois que subimos as escadas, andamos um pouco pelo corredor, dobramos a esquerda, a direita, até que eu me perdi pelos caminhos.
Ele abriu a porta e pode-se ver uma sala que parecia mais ser de balé. Tinha umas barras em frente a espelhos grandes, e uma brisa entrava pelas duas janelas grandes, onde dava para ver o jardim na frente da casa. O lugar era bem grande.
- Acho que aqui dá para ensaiar. – ele disse.
- Aqui tá ótimo! – falei.
- Olha, eu fiz umas cópias do roteiro... – Eloá falou pegando uns papeis do classificador que ela trouxe - E ah, o Thiago esqueceu de dizer quem vai ser o narrador.
- E quem vai ser o narrador? – Cristiano perguntou.
- O Thiago mesmo. – ela falou simplesmente enquanto entregava uma cópia do roteiro para cada um. – Então! Vamos começar?!
- Pera, eu nem gravei ainda a minha fala! – Fernando falou.
- Não precisa Nando, hoje é só o primeiro ensaio, você grava depois. – Eloá disse.
Estava parecendo que a Eloá era a líder do grupo, e eu não podia permitir isso. Eu já tinha alguma experiência com peças – culpa das peças infantis que eu fiz – então resolvi reassumir o meu posto de líder.
- Vamos ensaiar galera! – falei. – Quem começa é o Thiago, já que ele é o narrador.
- Tá bom! – o Thiago disse pegando o roteiro.
Ele começou a ler, ou melhor, narrar.
- O mundo está cheio de deuses e ninguém consegue servi-los a todos. No entanto, é verdade que o destino de um homem depende das escolhas que ele faz entre os deuses; e muitas histórias dizem que a guerra de Tróia começou assim, quando o herói troiano Páris foi chamado pelas Deusas ao topo do Monte Ida, numa tarde quente... – ele deu uma pausa e falou – É aí que entra as Deusas Lê, Déa e Eloá.
Nessa parte nós ensaiamos muito bem, até a hora em que o Paris, Cristian, vê Helena, Eloá, pela primeira vez e a convence a fugir com ele.
- Eu acho que nessa parte tem que ter beijo. – Fernando disse.
- Como assim? B... beijo de verdade? – Andressa perguntou.
- É! - Cristiano falou.
- Na... na... boca? – Andressa perguntou novamente.
- Sim, qual o problema Déa? – Thiago olhou intrigado para ela.
- Eu... - Andressa olhou para baixo – não sei, acho que não tem nada haver...
- Pois eu concordo! – Cristian falou irritado. – Quem concorda levanta a mão.
Thiago, Fernando, Eloá, Cristiano e o Cristian levantaram a mão, a maioria. Eu não podia levantar a mão, entendia o porque da Déa não querer levantar a mão e pelo visto o Josh também entendia, ele olhava preocupado para ela, assim como eu também estava.
- É a maioria, então tá certo! – Eloá sorriu. Se eu achava que ela era uma atirada, tinha mais certeza ainda agora.
- Vocês vão querer ensaiar essa parte agora? – Fernando perguntou com um sorriso maroto.
Quando ele disse isso, a Andressa saiu correndo porta fora.
- O que deu nela? – Eloá perguntou.
- Nada não! – falei bruscamente para a ela e depois saí também para procurar a Déa.
Olhei de um lado para o outro e não a vi em nenhuma parte do corredor resolvi pegar o caminho da direita achando que ela poderia ter querido ir embora, mas me perdi. Continuei andando pelo corredor e quando eu ia virar em uma curva esbarrei em alguém. Para a minha surpresa, era a mãe do Josh, Suilam.
- Me desculpe! – falei – Eu só estava...
- Procurando a sua amiga. – ela completou. – Letícia não é?
- Sim! A senhora sabe onde ela foi? – perguntei aflita.
- Não me chame de senhora, só de Suilam! E sim, eu a vi, ela me perguntou onde era o banheiro. Ela não estava muito bem... – ela falou incerta. – Eu posso ajudar em algo?
- Não precisa. – falei – Obrigada!
-Ok! Para chegar no banheiro é só seguir esse corredor, é a penúltima porta. – ela falou me mostrando o caminho.
- Obrigada! – eu disse – E me desculpe por ter esbarrado na senho.. digo, em você!
- Tudo bem, eu te desculpo, sei que não foi de propósito. – ela falou sorrindo.
- Obrigada! – falei novamente.
Eu já ia seguindo o meu caminho quando ela me chamou novamente.
- Letícia, obrigada! – ela disse.
- Pelo que? – perguntei com a minha constante cara de desentendida.
- Por fazer o Josh sorrir novamente! – ela falou sorrindo.
Então, o Josh não sorria? Por que? Mas que pergunta besta, é claro que deveria ser por causa do amigo dele que sumiu. Antes que eu pudesse fazer ou falar qualquer coisa, Suilam sumiu pelo corredor.
Depois de um tempo lembrei o porque de eu estar tão preocupada e, seguindo as instruções de Suilam, segui pelo corredor para procurar por Andressa. Finalmente encontrei o banheiro. Encostei minha orelha na porta para tentar escutar alguma coisa. Ouvi um choro baixinho, a Andressa estava chorando, que ótimo!
Tentei abrir a porta, mas estava trancada. Bati, nenhuma resposta. Bati novamente e continuei sem resposta. Bati mais forte e dessa vez falei.
- Déa, por favor abre! Eu quero conversar com você! Não confia mais em mim?!
Continuei sem resposta, resolvi insistir mais.
- Déa, eu sei que você tá aí! Abre essa porta!
Finalmente ela respondeu.
- O que você quer Letícia? – ela gritou com a voz rouca, provavelmente por causa do choro.
- Eu já falei Déa, quero falar com você!
- Eu não quero falar com ninguém. – ela disse.
- Por que? – perguntei.
- Porque... eu quero ficar sozinha, não preciso de ninguém! – ela já estava me irritando, será que não via que eu queria ajudá-la? Respirei fundo e falei.
- Déa, não adianta ficar assim, chorar não vai resolver o seu problema!
- Que problema? E quem disse que eu estou chorando? – “Teimosia e cabeça dura, era esse o problema dela”, pensei.
- Eu sei muito bem qual é o seu problema e o porque de você estar chorando. Agora abre essa porta!
Nenhuma reposta.
- Fala sério Déa, eu sou sua melhor amiga, eu quero conversar com você, e uma porta no meio não ajuda muito!
Houve um minuto de silêncio e finalmente ela abriu a porta. O seu rosto estava banhado por lágrimas, assim que entrei no banheiro - que por sinal era enorme e tinha até banheira -, ela me abraçou. Ficamos assim por um tempo até ela falar.
- Viu, não tenho problema nenhum. – ela falou com a voz fraca.
- Déa, porque você não fala de vez pro Ian que você gosta dele?
Ela se afastou de mim imediatamente.
- Quem disse que eu gosto desse... desse... legume?
Eu já temia essa reação.
- Fala sério Déa, tá escrito na sua cara!
- Não tá nada, você tá delirando! Desde quando se pode ver algo escrito na cara? Só se pode escrever no papel! E... e... é isso aí!
- Déa, você ama o Ian! – falei.
- Não amo! – ela disse.
- Ama! – insisti.
- Não amo! – ela gritou.
- Então porque saiu correndo quando soube que ele ia beijar a Eloá?
- Porque... não foi por causa disso! – ela parecia uma criança teimosa.
- Então foi o quê?
- Foi porque... eu ainda não me conformei do Cristian ter pego o papel principal, ele não sabe atuar, ele não sabe fazer nada!
- Então é isso? – perguntei, essa resposta não fazia sentido nenhum.
- É!
- E precisava chorar por isso? – perguntei ironicamente.
- É! - Ela falou com um sorriso de vitória no rosto.
- E você quer fazer o papel de Paris?
- É... não! Claro que não! – ela falou rapidamente. – Eu quero que o Josh faça o papel.
- Ele não! – falei cruzando os braços.
- Por que não? – ela levantou uma sobrancelha.
- Porque ele não quer! – eu que estava parecendo uma criança teimosa agora.
- Tudo bem então, que fosse qualquer outra pessoa! – ela jogou os braços para cima.
- Déa, essa sua perseguição pelo Ian, não tem fundamento! Será que você não enxerga isso?! Por que raios você acha que ele não sabe fazer nada? – perguntei derrotada.
- Porque ele não sabe e ponto final.
Continuar com essa discussão não ia dar em nada, a Andressa era muito cabeça dura para aceitar que ela gostava do Cristian, e eu já estava cansada de tentar enfiar isso na cabeça dela.
- Tá bom Déa! Então vamos voltar para o ensaio! – falei indo em direção a porta. Ela continuou parada no lugar.
- Eu não quero voltar para lá, tá tudo muito bem aqui obrigada! – ela disse.
- O que? – falei – Você prefere ficar trancada no banheiro?
- É! – ela falou – Esse banheiro é bem legal!
Eu vi que ela estava tentando me enrolar.
- Déa, por favor! Essa não colou. – falei.
- Tá bom! Eu quero ir pra casa.
- Mas por que? – perguntei desesperada.
- Eu não quero continuar lá e ver... – a voz dela foi sumindo.
Suspirei.
- Déa, você não pode fugir para sempre! Nós temos que ensaiar! É só por uns dias, depois agente apresenta o trabalho e você não vai mais precisar – levantei minhas mãos para fazer o movimento de aspas – “ver o Ian fazendo o papel principal!”
Ela olhou para mim com carinha triste e falou.
- Tá bom, eu vou com você! Vamos lá ensaiar.
- Claro! Se acharmos o lugar né! – falei. Ela riu.
- É mais fácil agente se perder...

Alguns carros da coleção do Josh:
Lamborghini: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/0/0e/Lamborghini_Murci%C3%A9lago_Roadster_2005.JPG
Ferrari Enzo 34:
http://www.fotosdecarro.net/foto-de-carro-ferrari-enzo-34/
Bugatti Veyron:
http://blog.cochesalaventa.com/_fotos2/2009/03/04/Geneva-2009-Bleu-Centenaire-is-every-bit-as-special-as-any-other-Bugatti-Veyron_7218_1.jpg
Porsche Cayman:
http://www.imotion.com.br/imagens/data/media/25/Porsche_Cayman.jpg
Novo Honda Fit :
http://images.noticiasautomotivas.com.br/img/d/honda-fit-novo-flagra-bruno-1.JPG

sábado, 23 de janeiro de 2010

Capitulo 15 - Inesperado.

No outro dia, a minha mãe também estava feliz. Antes de entrar na cozinha eu suspirei e pensei: “Está tudo bem Letícia, ela esta feliz! Fique feliz também!”.
O resto do dia passou-se normalmente, e dessa vez eu não esperei a noite para ver se a minha mãe viria de carona ou não. Eu tinha pensado realmente no assunto e concluí que não importava, desde que ela estivesse feliz. E se ela quisesse me contar, ela contaria. Se ela não tinha me contado ainda, era porque não tinha chegado à hora de contar.
Acordei cedo no outro dia, quinta-feira, e deu tempo de tomar café com minha mãe – que continuava feliz.
- Milagre! Não acredito que você vai tomar um café descente comigo filha!
- É como eu digo... peça por um milagre, que ele acaba acontecendo.
Nós duas rimos e tomamos um café tranqüilo e, por sinal, muito gostoso. Me entupi de suco de laranja e torrada.
Depois de ter enchido bastante o meu estômago, dei um beijo em minha mãe e saí.
Quando eu cheguei ao colégio a Andressa já havia chegado e veio correndo falar comigo, eu ainda estava na porta da sala.
- Lê! Eu vou te dar carona de novo tá?
Essa eu não tinha entendido. Normal.
- Carona? Pra quê?
Ela estreitou os olhos e olhou para mim pra ver se eu não estava brincando. Quando ela viu que a minha expressão de desentendimento era pura verdade, ela falou:
- Pra casa do Josh! Esqueceu? Hoje é o ensaio!
Minha boca se abriu em um grande “O” de compreensão. Por causa da minha preocupação com a minha mãe, eu tinha esquecido total e completamente do ensaio na casa do Josh.
- E então, – Andressa insistiu – eu vou te buscar tá?
Acordei do meu “transe” e respondi:
- Claro Déa. Que horas?
Ela pensou um pouco antes de responder.
- Acho que uma e meia tá bom né?
- Tá bom.... – comecei - Não! – falei rapidamente depois.
- Por que?!!!
- Por que eu chego em casa uma e vinte. Até eu almoçar, tomar banho e me arrumar vai demorar um pouco, e depois você vai ficar reclamando que eu nunca fico pronta na hora!
- Nossa é mesmo.... maldito busu esse seu que demora viu! Acho que vou comprar um carro pra você! – ela falou indignada. Eu tive que rir.
- Para quem dirigir cara pálida? Eu ainda não posso!
- Sei lá! Você contrata um motorista... só sei que assim não dá.
Ela tinha razão, ter que esperar um ônibus que geralmente vem lotado e ficar quase uma hora em pé esperando chegar o lugar em que você vai descer, realmente, ninguém merece!
- Olha Déa. Pode deixar, eu fico aqui no colégio e depois eu vou pra lá.
- E você vai comer o quê? – ela perguntou preocupada.
- Alguma coisa da cantina, não se preocupe.
- Isso não é nada saudável! – ela disse.
- Fala sério Déa! Eu sei disso! – “ainda bem que eu me empanturrei no café da manhã”, pensei – Mas, uma vez na vida não deve trazer muitos problemas.
- E você vai saber como ir? – ela não desistiu.
Eu diria: “Claro que não vou saber!” Mas, ao invés disso, falei:
- Vou sim, vou tentar.
Ela estreitou os olhos mais uma vez e foi para a carteira dela. Aproveitei para ir para a minha também, eu não queria ficar parada feito uma estátua bem na porta da sala.
Alguns segundos depois o Josh entrou e nos viu sentadas.
- Bom dia garotas! – ele falou sorridente. Ai, esse sorriso...
- Bom dia Josh! – Andressa falou sorrindo. Eu só consegui murmurar um “oi”, ainda estava hipnotizada pelo sorriso.
O Cristian chegou logo depois, o professor João Paulo também, e a aula de Matemática começou.
Andressa me passou um papelzinho com o endereço do Josh e escreveu no final:

Pra você não se perder!

Se fosse há algum tempo atrás, eu realmente não iria aceitar esse papelzinho, porque a coisa que eu mais gostaria de fazer era me perder para não precisar ir à casa do Josh. Mas agora, nós já éramos quase amigos, e esse negócio de me sentir sem graça já era quase infantil, afinal, ele se já tinha me desculpado não, e eu já tinha desculpado ele também, e agente já conversava mais do que antes, então porque eu ainda me sentia assim? Não existia nem motivos para isso!
Além do mais, eu não ia cometer nenhum crime federal lá, só ia ensaiar um trabalho do colégio e depois pronto!
Fui interrompida dos meus pensamentos por um papel de caderno que escorregou na minha carteira. Eu não sabia de quem era. Peguei esse papel e reconheci a letra caprichada que há algum tempo atrás tinha escrito uma frase muito idiota: “Você vai me pedir desculpas”. O pedaço de papel era do Josh. Me entupi de curiosidade e comecei a ler.

Eu ouvi você conversar com a Déa. Vai querer uma carona?

Como assim ele tinha ouvido eu conversar com a Déa? Ah, mas é claro! Ele deveria ter escutado tudo atrás da porta, por isso ele chegou segundos depois de eu e a Déa termos saído de lá. Eu sorri, então, ele estava ouvindo atrás da porta não é?

Sabia que ouvir atrás da porta é falta de educação?

Quando ele leu sorriu e se pôs a escrever. Ele me passou o papel novamente.

Tá certo, eu mereci essa.

Com certeza! Devolvi.

Mas é sério!, ele escreveu, Eu também vou ficar na escola depois da aula, se você quiser uma carona até a minha casa... tem lugar disponível.

Eu pensei por um momento. Carona, novamente, com o Josh, para a casa dele. Essa era uma cena que eu realmente nunca tinha imaginado. Mas espera um segundo. Por que ele ia ficar no colégio hoje?

Você vai ficar no colégio? Pra quê?

Passei o papelzinho para ele. Ele leu, escreveu e já ia passar o papelzinho novamente para mim quando percebeu que o professor estava olhando.
Ele estava tendo uma crise de raiva, já estava quase chorando, porque todos estavam conversando enquanto ele dava uma aula super importantíssima. Eu realmente não tinha percebido conversa nenhuma, nem que ele estava dando aula, na verdade, eu tinha quase esquecido que eu estava no colégio. Quase.
O Josh olhou para mim murmurou: “depois”. Eu voltei a prestar atenção no professor que estava muito chateado, a aula dele continuou depois em um clima muito pesado.
Depois disso, só conseguimos nos falar na hora do intervalo. Assim que o sinal tocou, ele veio andando ao meu lado em direção a cantina.
- Você é muito curiosa. – ele acusou.
- Como assim? O que eu fiz? – perguntei me defendendo de uma acusação infundada.
- Você quer saber por quê eu vou ficar na escola hoje.
Na mesma hora eu corei. A acusação tinha um certo fundamento.
- I-Isso.. não é... curiosidade. – gaguejei – Foi só uma pergunta, você responde se quiser.
Ele olhou para mim e sorriu. Ai, esse sorriso... “foco Letícia, foco” pensei.
- Tá bom, então eu vou responder. Eu tenho que estudar. Vou ficar na biblioteca.
Essa resposta não fez sentido.
- Mas você tem uma biblioteca em casa! – falei.
- É, mas... o assunto que eu vou estudar não tem em nenhum livro da biblioteca da minha casa. – ele disse rapidamente.
- E que assunto é? – perguntei.
- Lê, você é muito, muito curiosa.
Me irritei.
- Tá bem, não precisa responder!
Ele só sorriu quando viu que eu estava irritada e falou.
- Não se preocupe, eu não vou te incomodar, vou deixar você fazer o seu “lanche-almoço” – ele disse fazendo um movimento de aspas com as mãos - sozinha.
Na verdade verdadeira, eu não queria “lanchar-almoçar” sozinha, mas não deixei transparecer a minha vontade.
- Certo, mas na hora de ir, você me chama!
- Você vai aceitar a minha carona? – ele perguntou com um brilho nos olhos.
- Acho que sim... se não for incomodar.
- Hum... claro que não! Legal então. – ele falou simplesmente. – Eu te chamo. (N/a: olha, foi sem querer, mas se você tirar o “ch” dessa última palavra, vai ver que dá para formar outra frase bem significativa).
Pela primeira vez desde que começamos a conversar eu percebi que estávamos parados no meio da cantina conversando. Eu olhei em volta e localizei a Andressa e o Cristian na nossa mesa de costume. Fui até lá com o Josh.
- Olá casal... digo, pessoal! – Andressa nos saudou.
Dei um olhar mortal para ela e rebati olhando dela para o Cristian:
- Olá par perfeito... digo, meus amigos perfeitos! – falei.
- Tudo bem... já chega de “olás”! – Cristian disse sem emoção. Ele estava assim desde a briga com a Déa. Eu iria conversar com ele depois.
Eu e o Josh nos sentamos e nós quatro ficamos conversando pelo resto do intervalo.
As outras aulas se arrastaram e finalmente o sinal que marca o fim das aulas do dia tocou. Andressa me puxou para um canto da sala.
- Lê, tem certeza que você vai conseguir chegar lá? Eu tô preocupada... – ela me falou aflita.
- Claro que sim Déa! – falei sem pensar – eu vou pegar carona com... – parei abruptamente percebendo que eu estava falando demais. Se a Andressa descobrisse que eu iria de carona com o Josh, não ia mais largar do meu pé e faria milhares, ou talvez milhões, de perguntas. É claro que isso era inevitável, mas quanto mais eu pudesse adiar isso, seria o melhor.
- Pegar carona com quem? – ela me perguntou, curiosa como sempre!
- Com... – “pensa Letícia” – com o motorista do ônibus... ele é meu amigo, vai me deixar exatamente no endereço. E com certeza não vai me cobrar nada. – essa desculpa não foi nada legal, mas Andressa caiu nela.
- Hum, então tá bom! Te vejo lá! – ela disse me dando um abraço.
- Claro! – retribuí o abraço.
- Tchauzinho! E me liga se precisar viu! – ela falou já saindo da sala.
- Tá bom!
Almocei sozinha, ou melhor, lanchei sozinha, e depois fiquei sem saber o que fazer. Lembrei que eu tinha trazido meu walkman e um livro. Claro que eu podia ler o livro, mas não podia ouvir o walkman na cantina! Imagina a situação: Uma garota no meio da cantina ouvindo alguma coisa em um objeto pré-histórico. Ia ser muito mico! Porque muitos alunos também ficaram no colégio. Se pelo menos tivesse só umas duas ou três pessoas...
Levantei da mesa onde eu estava e procurei um lugar mais reservado do colégio. Enquanto eu andava pelo colégio me perguntei o que o Josh estaria fazendo naquele momento. “Na certa, lendo na biblioteca” pensei. Então, eu não podia ir lá para ouvir música e ler, já que ele estaria lá. Mas, pensando bem, não tinha nada de mais eu ir à biblioteca, ou tinha? Ah, eu já estava ficando muito confusa!
O único lugar sossegado, que eu podia ir, e que não ia me deixar maluca, era a sala de aula. Que a essa hora não tinha ninguém.
Peguei meu objeto pré-histórico preferido e o livro que eu estava lendo – Crepúsculo – e comecei a ler escutando Decode de Paramore – o CD da Paramore ainda estava lá. Eu fiquei entretida no livro pensando em Edward Cullen quando alguém veio por trás de mim e me deu um susto.
- Bu!
- Aaaaah! – gritei.
Quando eu olhei, o Josh estava rindo atrás de mim. Quando meu coração parou de bater como uma locomotiva e se acalmou eu falei:
- Não faz isso.
- Tudo bem, desculpe me, mas eu não resisti. – ela falou ainda rindo.
Me limitei a esperar o acesso de riso dele passar. Ele viu minha expressão séria e parou de rir.
- Desculpe. – ele disse novamente – Já está na hora da gente ir.
- Então vamos! – falei ainda irritada guardando meu livro e o walkman na mochila.
- Você está chateada? – ele perguntou.
- Não! – falei bruscamente colocando a mochila nas costas.
Ele suspirou e saiu da sala, eu saí logo atrás dele. Enquanto caminhávamos em direção a porta de saída do colégio ele perguntou.
- Se eu contar uma piada você desfaz essa cara irritada e me desculpa?
Eu não respondi, eu ainda estava irritada.
- Tá bom, essa piada é muito séria e triste, mas ainda assim é uma piada. – ele parou na minha frente – olha pra mim.
Eu fui obrigada a olhar aqueles olhos castanhos claros lindos de morrer. Ele estava com uma expressão muito séria.
- Está preparada? – ele perguntou.
- Diz logo! – falei impacientemente.
- Tem certeza? – dessa vez ele levantou uma sobrancelha e pareceu Sherlock Holmes resolvendo um grande mistério. Só essa expressão já me dava vontade de rir.
- Fala!
- Depois não diga que eu não avisei!
- Tá!
- Lá vai....
Revirei meus olhos.
- Olha....! – ele disse em tom de aviso.
- Conta logo Josh!
- O elefante caiu na lama. – ele falou dramaticamente.
Eu não sei como, mas eu ri. A piada não era engraçada, mas toda a situação que ele tinha criado para contá-la, foi demais para mim.
- Agora sim – ele disse – um sorriso!
- Tá bom! Eu te desculpo! – falei – Vamos logo!
- Vamos!
Finalmente chegamos no estacionamento. O Citroen c3 cinza já estava lá com o motorista dele, Marcelo.
- Oi Marcelo! – o Josh falou depois que entramos.
- Olá Senhor Steven! – o motorista respondeu com uma voz grossa.
- Pode acreditar, eu já tentei fazer com que ele parasse de me chamar assim, mas não consegui. – o Josh cochichou para mim.
Depois disso, nós não nos falamos por um tempo e, sentada no carro do Josh, ao lado do Josh, indo para a casa do Josh, me fez lembrar novamente a carta que eu li do Josh e de um fato que eu deveria ter pensado mais a muito tempo atrás: o irmão do Josh. Qual era mesmo o nome dele... eu não conseguia lembrar, já fazia um certo tempo, mas eu tinha certeza que começava com a letra “E”. Por que será que ele foi embora? Quem, em sã consciência, iria deixar para trás a família? Por mais dificuldades que existissem, não era necessário chegar a essa proporção: sair de casa!
Mas o que eu estava pensando? Eu não sabia o motivo real de ele ter ido embora! Era melhor eu parar de pensar nisso para eu não tirar conclusões muito precipitadas. Para tentar mudar de assunto eu desviei o olhar da janela do carro e olhei para o Josh. Ele parecia preocupado. Por um momento nossos olhos se encontraram e então ele falou meio apreensivo:
- Lê, tem uma coisa que eu queria te explicar faz um tempo.
- Explicar? – perguntei não entendendo. – O quê?
- Sobre a carta do Esmond.
O quê? O Josh lia mentes, igual ao Edward Cullen de Crepúsculo?
- Você não tem que me explicar nada! – me apressei em dizer.
- É, eu não tenho... Mas você é a minha... - ele hesitou -...amiga, ou não? – ele disse com os seus olhos castanhos sobre mim.
- Eu... sou. – “Acho”, acrescentei em mente.
- Então eu posso falar dos meus problemas e da minha vida para a minha amiga não posso?
- Pode.
- Então, eu vou te contar tudo tá bom?
- Tá bom. – eu estava parecendo uma criança muito educada que obedece aos pais.
- Eu vou contar quem é o Esmond Williams.
Ele parou por um momento e então falou.
- O Esmond passou a morar lá em casa quando eu e ele tínhamos 7 anos, mas antes disso nós já éramos amigos. Não, não somos irmãos de verdade como ele colocou na carta. – o Josh disse depois que viu a minha expressão, que já estava ficando constante, de desentendimento. – Mas nós nos consideramos irmãos, porque agente se conhece desde sempre sabe?
Eu não esbocei nenhuma reação, só conseguia prestar atenção no que ele dizia.
Ele continuou.
- Isso, é claro, porque os nossos pais eram amigos também. O meu pai e o pai dele trabalhavam no mesmo negócio. – ele suspirou – Mas, infelizmente, os pais do Esmond morreram em um acidente de avião. Robert e Kate Williams. O meu pai se sentiu culpado, porque na verdade, era para ele estar naquele avião, mas o Robert se ofereceu para ir no lugar dele, resolver uns negócios da empresa na Inglaterra. Como a Kate gostava muito de fazer compras, foi com ele para comprar algumas coisas em Londres... mas nunca chegamos a saber o que ela comprou lá.
“O Esmond sofreu muito. Eu nunca tinha visto ele chorar tanto quanto no dia que ele descobriu que os pais dele tinham morrido. No enterro ele surpreendeu a todos, não derramou nenhuma lágrima só ficou olhando, eu acho que ele já não tinha nem lágrimas para chorar. Então, meu pai e minha mãe resolveram ficar com ele, no início para recompensar a culpa, para que o Esmond não ficasse sozinho e fosse para um orfanato qualquer. Mas depois virou um amor de verdade, de pais e filho.”.
Ele sorriu.
- Confesso que fiquei com ciúmes, mas depois, eu me acostumei a tê-lo não só como amigo, mas como irmão. Só que aí, há três anos atrás... – o Josh engoliu seco – há três anos atrás, ele foi embora. Simplesmente foi, sem motivos, e só deixou a carta, e o livro. – ele olhou para mim.
- Eu... não sei o que dizer. – consegui falar.
- Eu sei. – ele deu um meio sorriso e depois suspirou mais uma vez. – Chegamos!
Eu olhei desviei o olhar para a janela do carro e vi que já havíamos passado pelo grande portão da entrada e estávamos parados bem em frente a casa. O Josh abriu a porta do carro, saiu e depois ficou segurando-a aberta para eu sair.
- Obrigada. – falei.
- De nada. – ele disse.
Nos dirigimos a grande porta de madeira, e o Josh tocou a campainha.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Capitulo 14 - Espera.

Quando acordei tomei um banho, me arrumei, peguei minha mochila e desci as escadas. A minha mãe já estava na cozinha cozinhando – tinha meio que virado uma rotina já que agora ela tinha diminuído o turno. Percebi que ela estava cantarolando, coisa que eu nunca a vi fazer.
- Mãe?
- Oi filha! Bom dia! – ela respondeu com um sorriso e se virando pra mim.
- Você está feliz. – não era uma pergunta.
- Você acha? – ela olhou pra mim com cara de santinha. Percebi que tinha alguma coisa acontecendo, coisa essa que eu ainda não estava sabendo.
- Mãe, me conta! – mandei.
- Mas não tem nada acontecendo filha! Só... acordei feliz! – ela estava com a cara de uma criança que foi pega no flagra, mas que continuava negando que tinha feito algo. Como ir direto ao assunto não estava funcionando, resolvi saber o que estava acontecendo indiretamente. Comecei com as perguntas:
- Que horas chegou ontem?
- As onze.
- Onze? Mas a senhora só chega aqui depois de meia-noite!
- É, mas eu peguei uma carona.
Bingo!
- De quem? – perguntei com curiosidade demais. Ela percebeu.
- Não interessa! – ela falou voltando para o fogão.
- Ai mãe, não acredito nisso!
- Não acredito no que?
- Você não vai me contar?
- Não!
- Então não vou contar uma novidade que eu recebi ontem. – falei dando uma cartada.
- Novidade? – ela perguntou. – De quem?
- Não interessa! – falei.
- Olha, me respeite mocinha que eu sou sua mãe!
- Eu sei que você é minha mãe, a mãe mais linda do mundo! – fui em direção a ela e dei um beijo na sua bochecha, ela fez bico - Mas, eu não vou contar enquanto você não me contar. – terminei pegando uma maçã e saindo da cozinha. Eu já estava quase atrasada para o colégio.
- Não vai tomar café filha?
- Não, já tô atrasada mãe.
- Eu não sei por que eu ainda me surpreendo com isso...
- Há há, muito engraçado mãe! – falei já saindo.

Quando cheguei ao colégio, o Cristian, o Josh e a Andressa já haviam chegado.
- Bom dia! – murmurei para eles, mas só duas pessoas me responderam.
- Bom dia Déa. – falei diretamente para ela, que não respondeu.
- O que deu nela? – perguntei ao Cristian.
- Não pergunte para mim, ela também não tá falando comigo.
Olhei para o Josh, ele deu de ombros.
- Déa, tá tudo bem? – perguntei. Ela se limitou a me olhar com uma cara emburrada e voltou a olhar para frente.
-Ok! – disse – Se você não quer falar comigo, não vou te forçar.
Sentei na mesma hora em que o professor de geografia entrava na sala. Arranquei uma folha do meu caderno e escrevi:

Porque você não quer falar comigo?

Passei o papelzinho para a Andressa. Ela leu, escreveu e devolveu:

Você disse que não ia me forçar a falar com você.

Eu sorri e escrevi de volta.

Eu disse que não ia falar, não que eu não ia escrever!

Ela deu um sorriso rápido, tentou disfarçar e fez cara de emburrada de novo. Depois escreveu e me devolveu o papel.

Simplesmente porque você me forçou a trabalhar com o Cristian!

Como? Agora ela não ia querer falar comigo por causa de uma bobagem! Escrevi e mandei o papelzinho pra ela novamente.

Por favor Andressa, é só um trabalho de escola! E até parece que vocês não são amigos!

Nós somos amigos!, ela escreveu, mas... ele não sabe nada de moda!

Suspirei. Como eu podia fazer essa menina parar com aquilo? Tive uma idéia e escrevi:

Tudo bem, ele não sabe, mas você pode ensiná-lo não pode? Tenho certeza que você será uma ótima professora!

Enquanto ela lia fez um biquinho, fingiu que estava pensando um pouco, sorriu, escreveu e passou o papel para mim:

Tá bom! Você me convenceu! Eu faço essa parte do trabalho com ele!

Dessa vez eu sorri, escrevi e devolvi o papel para ela:

Você vai voltar a falar comigo? Porque se não, vamos desmatar uma floresta inteira se só usarmos papel para nos comunicar.

Ela riu e afirmou com a cabeça. Eu ri também e voltei a prestar atenção na aula.
Na hora do intervalo ouve outra reunião do grupo - dessa vez sem brigas e discussões – para marcar o dia do nosso primeiro ensaio.
Depois de uma conversa rápida, decidiu-se que iria ter ensaio na quinta-feira, – dia em que eu não trabalhava – às duas horas e – claro – na casa do Josh.

Eu cheguei em casa decidida a não dormir para poder ver com quem minha mãe ia chegar de carona. Mas até a noite, eu ia passar por uma longa tarde.
Para passar o tempo resolvi limpar a casa, depois fiz todas as atividades do colégio e assisti a um filme. Depois disso tudo, ainda eram cinco horas da tarde e eu não tinha mais nada para fazer. Resolvi ligar para a Andressa.
- Alô. – ela falou do outro lado da linha.
- Oi Déa! É a Lê!
- Oi Lê!
- Tudo bem? – perguntei.
- Tudo sim...
- Fazendo o quê?
- Eu estava dando escova no cabelo. E você?
- Eu não estou fazendo nada...
- Hum - ela falou. Resolvi puxar um assunto.
- Por que você não está falando com o Ian?
Ela deu um muxoxo e respondeu.
- Você sabe muito bem porque não é!
- Eu sei, mas vocês têm que trabalhar juntos, e se vocês não se falarem, como vocês vão trabalhar?
- Tá bom Lê, eu vou falar com ele, mas por enquanto agente não está trabalhando não é?
- É! – falei.
- Então pronto!
- Tudo bem... você que sabe Déa!
Depois disso ficamos conversando por mais de uma hora até a Andressa se olhar no espelho e ver que ainda não tinha terminado de dar a escova.
Olhei para o relógio e vi que ainda eram seis horas e meia. Resolvi ir para o quarto e ligar o computador para me distrair.
Fiquei jogando um monte de jogos até as onze e eu já ia desistir e ir dormir às onze e quinze quando eu ouvi um barulho de carro.
Corri para a minha janela, me escondi atrás das cortinas e fiquei olhando.
Mesmo no escuro era impossível não ver que o carro era um Novo Honda Civic prata, carro esse que, em minha opinião, era lindo, e só os ricos tinham. Ele estacionou na frente da casa e ouvi o clique do motor ser desligado.
Se passou uns cinco minutos até que minha mãe saiu do carro toda sorridente. Ouvi o carro ser ligado novamente e começar a andar. Minha mãe deu um tchauzinho e o carro desapareceu na esquina.
Mesmo tendo visto o carro, eu não podia acreditar que eu não tinha visto o dono do carro. Eu fiquei até as onze horas da noite acordada para não ver quem era a pessoa que estava dando carona para a minha mãe!
Ouvi a porta da frente ser fechada e resolvi ir deitar antes que minha mãe visse o que eu estava bisbilhotando. Desliguei rapidamente o computador e fui deitar. Dez minutos depois eu ouvi minha mãe abrir a porta do meu quarto. Eu fiz o máximo para parecer que eu estava dormindo. Ela me deu um beijo no rosto e depois saiu, fechando a porta ao passar.
Depois que ela saiu, eu comecei a ter a consciência pesada. Eu tinha sido curiosa, de novo, e da última vez que eu tinha sido curiosa, não tinha dado certo para mim. “Mas eu não estou fazendo nada de errado” pensei “ eu só estava preocupada com a minha mãe”. Sim, eu estava preocupada com a minha mãe. Desde que eu me conhecia por gente, minha mãe nunca tinha recebido carona de ninguém, só de amigas. “Mas quem garante que não foi uma amiga que deu carona para ela?” me perguntei. Mas essa resposta eu mesma sabia. Minha mãe não cantarolava no dia seguinte quando amigas lhe davam carona.
Fechei meus olhos e me perguntei o porquê de eu estar preocupada, minha mãe estava feliz não estava? Então eu deveria estar também!
Esse pensamento me fez diminuir um pouco a preocupação, então, resolvi dormir antes que eu começasse a me preocupar novamente.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Capitulo 13 - Surpresas.

Depois da “reunião fiasco” eu tinha que ir ao trabalho e provavelmente encontrar a minha “querida chefa”.

Cheguei lá cedo e, por mais discreta que eu tenha sido, a Grace reparou.

- Tá chovendo hoje? – ela perguntou irônica.

Eu estava morrendo de fome, com dor de cabeça e estressada depois de uma reunião cansativa, a minha vontade era de falar: “Tá sim, chovendo caráter! Por que você não vai lá pegar um desses pra ver se você não se torna uma pessoa pelo menos um pouquinho melhor?”, mas ao invés disso eu falei com a maior inocência do mundo e com um tanque de paciência:

- Não. Por quê?

- Por que pra você chegar cedo, só assim, não é queridinha? – ela falou com um sorriso falso.

- É, pois é não é? – me limitei a responder.

- Veio do colégio? – ela perguntou reparando que eu estava com a farda do colégio.

“Agora,” pensei, “o que ela tinha a ver com isso?!”. Mas eu me lembrei que eu tinha um tanque, já pela metade, de paciência.

- É sim, tive que ficar até mais tarde hoje... com licença, tenho que trocar de roupa para ir trabalhar. – falei rapidamente.

- Tudo bem! – ela disse simplesmente.

Troquei de roupa, peguei meu walkman – para no casa de não haver muito movimento na loja – e guardei a mochila no armário.

Atendi alguns clientes até que, finalmente, não tinha mais ninguém para atender. Como ainda faltava mais de uma hora para acabar o meu expediente, fui para trás do balcão com o meu walkman, coloquei o fone de ouvido e apertei o play. Para a minha sorte, o CD que estava dentro era do Paramore, coloquei na minha música preferida “All I Wanted”. Sentei num banquinho que tinha lá e tentei relaxar com a música. Eu já estava viajando na batatinha quando alguém tirou o fone do meu ouvido e falou:

- Olá!

Quase caí da cadeira quando reconheci a voz. Olhei assustada tentando me convencer que eu não estava vendo o que eu estava vendo. O Josh, com uma camiseta branca, de calça jeans, com os cabelos bagunçados de sempre e com um lindo sorriso no rosto bem na minha frente!

- Olá! – ele repetiu.

- Eu... é... oi! O que você está fazendo aqui? – perguntei ainda assustada.

- Vim comprar uns CD’s é claro!

- Ah, então tá! – falei.

Houve um minuto de silêncio onde eu olhava para ele e ele pra mim, até que ele quebrou o silêncio e perguntou com um meio sorriso no rosto:

- Você não vai me atender?

Fui pega de surpresa novamente.

- O que?

- Bem... é que eu preciso de uns conselhos sobre que CD comprar, e como você trabalha aqui, achei que você podia me ajudar.

- Não, claro, você está certíssimo! Então, vamos lá! - falei atrapalhadamente saindo de trás do balcão e largando o walkman lá.

Parei na frente dele e perguntei formalmente:

- Que tipo de CD você quer comprar?

- Não sei... – ele falou despreocupado – o que você me indica?

- Eu gosto de rock, você gosta de rock? – perguntei rápido demais.

- Claro! Quem não gosta de rock? Ou de pelo menos uma música de rock.

- Ótimo, então me siga! – falei já começando a andar. Ele apresou o passo até que ficou ao meu lado.

- Essa reunião de hoje não foi muito legal, não?

- Foi. – suspirei – A Déa e o Ian brigam muito mesmo, mas acho que o de hoje foi um pouco mais sério do que normalmente.

- É eu percebi, o Ian já me falou sobre isso...

Olhei para ele não entendendo.

- Como assim?

- Ah, - ele falou quando percebeu que eu não havia entendido – naquele dia que ele ficou para o jantar... bem, nós conversamos um pouco, e eu percebi que ele ama a Déa. – ele disse rindo no final.

- Sério? Eu achei que só eu conseguia ver o que estava estampado na cara daqueles dois! – falei rindo também.

- Seu sorriso é lindo sabia! – ele falou olhando para mim.

No mesmo momento eu corei, agradeci mentalmente a Deus por eu ter a pele escura, e disse morrendo de vergonha:

- Obrigada!

Ele suspirou.

- De nada.

- Ah, - falei quando chegamos na parte onde havia Cd’s de rock e também tentando mudar de assunto – chegamos na parte de Cd’s de rock! Aqui têm Cd’s do Green Day, todos deles! Tem Paramore também, o novo Cd. Kings of Leon, Red Hot... na verdade tem uma variedade de ...

- Letícia... – o Josh interrompeu, mas também não conseguiu terminar.

- Olá, algum problema por aqui? – era a minha “querida chefa” Grace.

- Não. – falei.

- Ótimo! Pode deixar, eu atendo ele! Você deve estar muito cansada Letícia. – ela falou olhando com cobiça para o Josh. A Grace era uma caçadora de homens. Eu não entendi por que tinha demorado tanto pro “radar” dela perceber que havia um homem bonito na loja.

- Não precisa – o Josh falou – eu volto outro dia, não encontrei o que eu queria.

- Mas o que você queria? Procurou direito? – a Grace insistiu jogando charme nele. – já sei, a Letícia não te mostrou a loja direito não foi?

Revirei meus olhos.

- Não, nada disso! – o Josh falou rapidamente – Ela me atendeu muito bem, mas é que eu realmente não quero comprar nada hoje, mas muito obrigado por ser tão... – ele hesitou um pouco - prestativa.

- Nada! Pode vir sempre que quiser que eu vou estar aqui para te atender viu! – ela disse sorridente.

- Obrigado novamente. Tchau. – ele falou.

- Tchau! – a Grace respondeu.

- Tchau Letícia! – ele falou me dando um sorriso.

- Tchau Josh...

Ele foi embora, a Grace deu um olhar de desprezo pra mim e foi para outro lugar. Eu continuei estática no lugar. Pensando quantas mais surpresas eu teria naquele dia. Eu realmente esperava que pelo menos fosse uma boa surpresa.

Quando eu já ia subindo as escadas para ir ao meu quarto, o telefone tocou. Fui correndo atender.

- Alô. – falei.

- Oi Lê! – a voz era feminina e infantil, apesar da dona dessa voz ser mais velha do que eu.

Sorri quando reconhecia a voz da Simone, a minha ex-chefa.

- Oi Simoninha! Que saudades de você!

- Eu sei, todos têm saudades de mim! – ela falou rindo do outro lado da linha. – eu também estava com saudades de você minha linda! Como estão as coisas?

- Ah, tão indo – respondi sem emoção.

- Há algum problema? – ela perguntou preocupada.

- Não, não! – tentei parecer feliz – só estou um pouco cansada. Eu trabalhei hoje.

- Ah, é mesmo! E a loja? Como está?– ela perguntou desconfiada.

- Tá indo muito bem, vendendo bem... todos estão sentido sua falta!

- Ah, - ela falou sonhadora – eu também sinto muita falta de vocês. Sabe Lê – ela mudou repentinamente de assunto – eu liguei também pra te dizer uma novidade.

- Ah, conta! – falei – não me deixe curiosa!

- Tá bom, – ela riu – você está sentada?

- Já sentei – disse sentando no sofá.

- Estou grávida!!!

- Mentira! – falei espantada. Era meio difícil imaginar a Simone como mãe, era perfeita em um papel de filha, não ao contrario! Ela era uma adulta, mas tinha a mente de uma criança, na verdade, era isso que a fazia ser uma pessoa tão querida. Mas é claro que nas horas certas ela sabia ser adulta, e eu tive certeza que ela iria ser uma ótima mãe.

- Verdade! E você é a primeira que sabe, quer dizer, além do médico, que eu estou grávida. Recebi a confirmação hoje! – ela estava radiante.

- Nossa, que honra!! Parabéns Simoninha! Que esse bebê traga muita felicidade pra você! – falei emocionada, eu era muito sentimental às vezes.

- Pode ter certeza Lê! Esse bebê já está me fazendo muito feliz!

- Que bom! O Paulo vai ficar muito feliz quando souber! E a galera de lá da loja também!

- É, eu sei! Olha já vou desligar! Você tá cansada, qualquer dia desse agente se fala melhor tá bom!?

- Claro! Depois você me conta a reação do Paulo!

- Conto sim! Claro que sim!

- Eu já imagino a cara dele! – falei rindo.

- Eu também! Sabe, ele fica tão bobo às vezes... tenho certeza que ele será um pai babão!

- E tem que ser mesmo!

- Há, tá bom! Ah, como tá a sua mãe? – ela perguntou.

- Bem! – respondi.

- Trabalhando muito não é?

- E como Simoninha!

- Eu sei... esse trabalho de sua mãe deve esgotá-la muito! Não sei como ela ainda não ficou rica!

- Pra falar a verdade nem, eu! Qualquer pessoa que trabalha tanto assim já deveria estar rica!

- É mesmo... agora eu vou desligar mesmo! Beijão minha linda! E mande beijos para sua mãe também!

- Beijo Simoninha. Muitas felicidades!

- Obrigada!

Quando eu desliguei o telefone eu mal podia acreditar no que tinha acontecido. Depois de um dia extremamente cansativo, a Simoninha tinha me ligado e dado a melhor notícia que eu poderia receber nesses últimos meses!

Bem que minha mãe sempre diz que pequenas surpresas podem mudar tudo.

Subi as escadas correndo, tomei um banho, fui para a cozinha, comi algo rapidamente e depois me dirigi ao quarto para dormir pensando no sorriso do Josh e na ligação da Simone.

Esse não tinha sido um dos melhores dias da minha vida, mas esse dia tinha valido muito a pena.